Uma vez Flamengo…

Domingo, sol, praia, era 1965. Encontro uma bela moça que, há muito, era vítima do meu assédio, um assédio delicado, gentil, com muito charme …

Domingo, sol, praia, era 1965. Encontro uma bela moça que, há muito, era vítima do meu assédio, um assédio delicado, gentil, com muito charme e até algumas flores, mas assédio.


Era o meu domingo de sorte. Cada um foi para a sua casa trocar de roupa, marcamos encontro num restaurante, almoçamos e, então, fomos para a minha casa, onde tudo aconteceu de forma maravilhosa. 


Fim de tarde, ela cochilando, desci para apanhar umas cervejas no bar em baixo. Era Copacabana e, logo no botequim, fui informado que o Flamengo ganhara do Bangu e, por antecipação, era o campeão carioca de futebol.


Iniciei a comemoração com uma cerveja e, já na segunda, ou um grande "bloco de sujos" com bandeiras e camisas do campeão.


Deixei as cervejas para apanhar depois, entrei de gaiato no bloco, rebolei com uma linda morena e, mais ou menos, uma hora depois voltei à base. Vazia.


Coloquei um LP de Noel Rosa no toca-discos e fui para o chuveiro ouvindo "? morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete, sem luar e sem violão?".
A moça, infelizmente, fez o que eu achava que faria, ainda que eu não quisesse. Teve uma atitude exemplar, não entendeu e nem aceitou minhas desculpas e nunca mais falou comigo. Não era rubro-negra.


Minha única e pobre justificativa, mais por necessidade de consolo que consolo mesmo: "Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer".


***  


Eu havia ido para a Rede Globo, implantar e dirigir a sua house agency, prosaicamente batizada de Agência da Casa.


Era 1977, e a FAF - Frente Ampla pelo Flamengo - nasceu nas salas da Globo, especificamente na do Otto Lara Resende, que, posteriormente, vestiria o fardão da Academia Brasileira de Letras.


Gente das mais variadas atividades, como Walter Clark, o executivo que comandou a ascensão da Globo, João Araújo, da Som Livre, Magaldi, superintendente de Comunicação da Globo, Newton Rique, o dono do Banco de Campina Grande, Carlos Niemeyer (Nini, o criador do Canal 100 e do "Caju Amigo") e Márcio Braga, dono de cartório e que acabou sendo o escolhido para candidato da FAF à presidência do Flamengo.


A campanha para a presidência foi entregue ao Magaldi, que a dividiu comigo. Magaldi foi o seu ideólogo e eu, o seu executor.


Na Agência da Casa, editou-se o Boletim Semanal da FAF, os "comerciais" que gravei com Márcio e Nini, exibidos gratuitamente e "despercebidos" pelo rubro-negro Roberto Marinho.


Quando faltavam três semanas para a eleição na qual a FAF era a oposição, peguei Magaldi no corredor e mostrei-lhe um anúncio de um programa da Globo para a sua aprovação.


Ele olhou, disse "tudo bem" e acrescentou:


- Mario, se eu pegar você fazendo qualquer outro trabalho para a Globo, até a eleição, considere-se demitido.


Vencemos, é claro.


Na madrugada de 1981, na qual, em Tóquio, o Flamengo sagrou-se campeão do mundo, saí da Barra da Tijuca para a comemoração no Antonio"s, no Leblon.


Era a única casa aberta na Zona Sul e quando cheguei na porta, o bar estava absolutamente lotado. A maioria dos "barrados no baile" era gente que conhecia meu currículo no Mengo e, com a ajuda de dois garçons, um grupo colocou-me, na horizontal, junto ao balcão.


Um repórter da Folha de S. Paulo fez a pergunta:


- E?


- Macunaíma venceu.


Inté.

Autor
Mario de Almeida é jornalista, publicitário e escritor.

Comments