Uma sugestão de pauta

Deu no Financial Times nesta semana: "O Brasil precisa crescer e há poucos sinais de que o Sr. Lula saiba como. Alckmin sabe e …

Deu no Financial Times nesta semana: "O Brasil precisa crescer e há poucos sinais de que o Sr. Lula saiba como. Alckmin sabe e fala em cortar gastos - embora sem dizer ao eleitor que cortará suas pensões, que é o que precisa ser feito".


Responsável pela articulação política do Governo, Tarso Genro defendeu a flexibilização dos direitos adquiridos. Entendendo que é muito alta a razão entre os maiores e os menores salários pagos pelo Estado. Em sua opinião, a relação que hoje é de 60 para um, deveria ser reduzida pela metade.


Porto-alegrenses, desde certa promessa peremptória, podem desconfiar de tudo o que propõe o Ministro. Contribuintes brasileiros, por sua vez, podem, e devem, temer toda vez que o governo de um partido alicerçado nas corporações de funcionários públicos propõe mexidas na estrutura salarial do Estado - esta redução da razão pode ser pelo aumento dos menores valores com a conta espetada no mesmo lombo de sempre.


Por incrível que pareça, no entanto, acredito na sinceridade do Ministro. Quatro anos de governo parecem ter sensibilizado até aqueles que acreditaram um dia que a riqueza de um país pode ser construída sem estímulo ao empreendedorismo e ao trabalho árduo.


A coincidência no agendamento do tema nos dois projetos com possibilidades de vitória pode significar um grande avanço, quem sabe até um pacto em torno do assunto para implementação no próximo mandato.


Há, no entanto, um trabalho a ser realizado pela imprensa. Notícias sobre aposentadorias e salários nababescos muito têm sido divulgadas como se faits divers fossem. Algo como, no lugar tal, alguns ocupantes de determinado cargo recebem determinado valor, que sempre é um número despropositado, considerando as condições de vida da população em geral.


É hora de realizar um trabalho sério, investigativo e que permita a formação de opinião acerca do assunto. Há risco de muitas injustiças. É preciso verificar, por exemplo, a questão atuarial destas aposentadorias, identificar a relação entre contribuições e benefícios.


A imprensa brasileira, que tem tido um papel decisivo em vários momentos da história recente do Brasil, deve à sociedade esta contribuição. É um direito da cidadania conhecer o destino dos impostos que paga.


Se em nome da justiça não se deve acusar os possíveis absurdos no andar de cima sem conhecimento de causa, deve-se ao mesmo tempo reconhecer que há atividades muito mal remuneradas no Brasil.


No andar de baixo o trabalho da imprensa está feito e publicado. Professores, para falar de uma categoria emblemática, recebem salários muito aquém da importância estratégica dos cargos que desempenham. Num país que tem visão de futuro e desejo de competir globalmente, as pessoas que são responsáveis pela educação têm que ter um salário que assegure a tranqüilidade para exercerem a tarefa.


Os tais direitos adquiridos devem estar subordinados aos interesses maiores da sociedade brasileira. Não se pode aceitar que, enquanto são pagos valores abusivos a uma pequena casta, o Brasil permaneça com graves problemas para atender às necessidades básicas daqueles que ocupam a base da pirâmide.


A sociedade brasileira precisa discutir este tema e, à imprensa, cabe o papel de subsidiar o debate!  

Autor
André Arnt, diretor da Coletiva EAC, é de empresas, consultor e professor universitário. Coordenou cursos de pós-graduação nas áreas de negócios e marketing. Atua como consultor em estratégia empresarial. É colaborador da Coletiva.net.

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