Uma população vivendo em condições subumanas
Por Márcia Martins

Falta dinheiro. Falta moradia. Falta vaga de emprego. Falta uma cama confortável. Falta um lar. Falta alimento. Falta um teto, um abrigo, um aconchego. Mas para uma população que insiste e resiste apesar de inúmeras dificuldades, o que não falta é a vontade de viver, de se ajeitar, de se arrumar em cantos nas calçadas, marquises e ruas da cidade, de sobreviver, apesar de todas as adversidades. Essa é a situação da população de rua que cresceu 32,2% em Porto Alegre no ano ado e, sem políticas públicas adequadas, pode seguir em evolução nos próximos anos.
Um levantamento do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgado em excelente reportagem da Matinal, indica que o número de pessoas em situação de rua na capital gaúcha pulou de 4.064 em dezembro de 2023 para 5.373 no mesmo mês do ano ado. E, com isso, Porto Alegre figura entre as 10 capitais com maior aumento na população de rua.
Não é preciso caminhar muito pela cidade para comprovar os dados do levantamento publicado pela Matinal. Nos três bairros em que eio com mais frequência - Bom Fim, Cidade Baixa e Menino Deus - o crescimento das pessoas que vivem nas ruas salta aos olhos. Em qualquer hora do dia ou da noite. Embaixo de cada marquise, de cada fachada de edifício, na frente do comércio, em bancos dos parques e praças, uma população se aninha sobre papelões substituindo colchões, se contorce sobre pedaços de roupas cedidas, se permite dormir assim, sem conforto e sem privacidade.
É uma população vivendo em condições subumanas, em cenários degradantes, em situações humilhantes que jamais deveriam ser experimentadas pelos seres humanos. Caminhar pelas ruas da cidade e não se comover com as pessoas vivendo assim é, no mínimo, não ter solidariedade, não ter empatia, ter perdido, há muito, a preocupação com o próximo. Andar por Porto Alegre e não se indignar com as pessoas vivendo assim é, no mínimo, compactuar com o poder municipal que não enxerga nesse segmento a necessidade de uma atenção e, por isso, não se empenha em implantar políticas públicas para atenuar ou reverter tal situação.
Tivesse melhores condições financeiras, juro que sairia ajudando as pessoas que vivem nas ruas. Não fosse uma aposentada com recursos istrados na ponta do lápis, juro que me envolveria mais no auxílio das pessoas que dormem nas ruas. Ao relento, debaixo de chuvas, enfrentando temperaturas altas no verão, de madrugada ou com o sol forte. É impossível não ser impactada com os olhares de serenidade e humildade daqueles que vivem nas ruas e mendigam minutos da nossa caridade.
Na reportagem citada acima da Matinal, consta que segundo a Política Nacional para População em Situação de Rua se enquadra nesta condição a pessoa que não conta com domicílio físico, mora em locais degradados, na rua, em praças ou embaixo de viadutos, além da pessoa que sobrevive em cenários mais transitórios em abrigos, albergues e pensões. Mais de cinco mil pessoas em Porto Alegre viviam, em dezembro de 2024, sem as condições mínimas de dignidade.