Uma estreia entre o jornalismo, o cinema e a Amazônia

Por Renato Dornelles

Por mais que eu esteja muito próximo de "sexagenar" e que praticamente dois terços deste tempo tenham sido marcados pelo exercício da comunicação, é sempre emocionante e prazeroso estrear em um novo espaço. É desta forma que me sinto ao escrever esta coluna, minha primeira em Coletiva.Net.

Aliás, este espaço, que marca o meu retorno à escrita regular, confirma aquilo que sempre imaginei ao longo de minha carreira: só vou parar de escrever quando partir desta. E espero que isso ainda esteja muito longe de acontecer.  Também espero, com essa coluna, ter a capacidade de transitar por temas variados, como fiz durante 33 anos de jornalismo diário, ando por diferentes editorias, embora tenha ficado marcado majoritariamente por temáticas ligadas à Segurança Pública e ao mundo do samba.

Nos últimos 10 anos, dediquei-me também ao audiovisual, especialmente a documentários, que eu diria, um primo próximo do jornalismo. Não são muitas as diferenças. Uma delas, é um tempo mais adequado para planejar, executar e finalizar cada trabalho, algo cada vez mais raro na comunicação jornalística, cuja exigência de instantaneidade, antes quase que restrita ao rádio, ampliou-se com a chegada da Era do Jornalismo Digital.

Falando em audiovisual e aproveitando a proximidade de mais um Festival de Cinema de Gramado, uso o filme vencedor da edição do ano ado como gancho para o assunto de hoje. Dirigido por Sérgio de Carvalho, o longa-metragem 'Noites Alienígenas' (disponível em canais de streaming) aborda os impactos da chegada do crime organizado (leia-se Primeiro Comando da Capital ou simplesmente PCC) à Amazônia, neste caso, mais especificamente ao Acre.  

Uma grave consequência é a cooptação da juventude local, principalmente a periférica e que se encontra em situação de vulnerabilidade econômica e social, para as fileiras do tráfico de drogas. E como invariavelmente ocorre nestes casos, há um aumento considerável no número de juvenicídios.

No mês de junho, eu e minha sócia, Tatiana Sager, participamos do Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), neste ano realizado em Belém do Pará. Foi a minha segunda participação. A primeira foi em 2017, como palestrante em uma mesa que tratava sobre facções criminosas. Neste ano, eu e Tatiana fomos convidados a exibir o nosso longa-metragem 'Olha Pra Elas'.

Contextualizando, os encontros anuais do FBSP reúnem centenas de pessoas, entre as quais pesquisadores, agentes do sistema jurídico-criminal, como juízes, promotores, defensores públicos, policiais civis, policiais militares, advogados, militares das Forças Armadas e policiais federais, e outros grupos. 

Durante o encontro, tivemos a oportunidade de ouvir, questionar e debater durante os painéis, e conversar nos intervalos, com moradores da Região Amazônica. Principalmente indígenas e quilombolas. Todos confirmaram que os graves danos vêm ocorrendo de forma letal em suas comunidades.

Além de cooptar jovens, criminosos constroem pistas clandestinas e escondem drogas em territórios indígenas e quilombolas. Tudo isso na esteira de grileiros e madeireiros ilegais, que já há bastante tempo impõem terror nestas áreas, também afetadas pelo avanço do garimpo e da mineração. 

Autor
Jornalista, escritor, roteirista, produtor, sócio-diretor da editora/produtora Falange Produções, é formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) (1986), com especialização em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2021). No Jornalismo, durante 33 anos atuou como repórter, editor e colunista, tendo recebido cerca de 40 prêmios. No Audiovisual, nos últimos 10 anos atuou em funções de codireção, roteiro e produção. Codirigiu e roteirizou os premiados documentários em longa-metragem 'Central - O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil' e 'Olha Pra Elas', e as séries de TV documentais 'Retratos do Cárcere' e 'Violadas e Segregadas'. Na Literatura, é autor dos livros 'Falange Gaúcha', 'A Cor da Esperança' e, em parceria com Tatiana Sager, 'Paz nas Prisões, Guerra nas Ruas'. E-mail para contato: [email protected]

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