Um prêmio e algumas memórias
A Ladeira da Memória, em São Paulo, oficialmente Largo da Memória, também belo romance de José Geraldo Vieira, é mais citada como o Largo …
A Ladeira da Memória,
A origem do nome Piques tem algumas versões e eu, que não acredito em coincidências, fico com a mais verossímil, pois nos idos de
Encerrada a homenagem que acabo de fazer ao antigo "nariz de cera" da nossa imprensa, explico que, ao lado do Piques, fica a Rua João Adolfo,
Foi lá, a poucos metros da Avenida 9 de julho, data da Revolução Constitucionalista de 1932 e meu aniversário, que em 1964 dei início ao meu currículo como publicitário.
O mesmo edifício, onde o amigo-irmão Piratininga chefiava a agência Reclam, abrigava a Editora Abril, em cuja revista Quatro Rodas trabalhavam, entre outros, Paulo Patarra, Sérgio de Souza e José Hamilton Ribeiro. Minha vinda para o Rio afastou-me da vizinhança desses fundadores, pouco depois, da revista mensal Realidade, dos quais apenas José Hamilton sobrevive e pode contar também o nascimento de Veja e o fim de Realidade. Mas, ensina Drummond, "de tudo fica um pouco" e ficaram-me as lembranças de grandes caminhadas e longos papos com Sérgio de Souza.
Caco Barcellos, assim como a televisão brasileira, nasceu em 1950 e só o conheço mesmo através da TV e por muitas reportagens no jornalismo escrito. Assisti a um programa dele com o meu amigo, também jornalista, Fritz Utzeri, onde não sobrou mentira sobre mentira sobre o escabroso episódio do Riocentro em 1º de maio de 1981.
Ricardo Kotscho não conheço, mas a companhia onde se encontra aí embaixo é de referência mais que satisfatória.
Dia 27 de outubro, no teatro da PUC de São Paulo, Caco Barcellos, José Hamilton Ribeiro, Ricardo Kotscho, Zuenir Ventura e o inesquecível Henfil (in memoriam) receberão o Troféu Especial de Imprensa ONU* como destaques - nos últimos 30 anos - na defesa dos direitos humanos. Eles foram eleitos por mais de 500 jornalistas.
O então prefeito Marcelo Alencar, em 1983, criou um concurso de cartazes entre alunos das escolas municipais sobre tema que não me recordo, e Henfil, Zuenir Ventura e eu fomos convidados para a escolha do melhor.
Henfil, que eu conhecia do Pasquim, me fizera alguns trabalhos publicitários e a gente se via "por aí".
Zuenir, que anos depois seria celebrizado pelo seu best-seller 1968 - o ano que não terminou, nunca mais vira.
A convite da Feira do Livro de Porto Alegre, escrevi, para uma leitura pública com antigos companheiros do Teatro de Equipe, o "Ato contra atos", um evento "descomemorativo" dos 35 anos da do AI-5 (Ato Institucional nº 5), que oficializou o Brasil como um Estado assassino. Foi um verdadeiro vomitório sobre a ditadura, ditadores e aúlicos.
No auditório Barbosa Lessa do Centro Cultural Erico Verissimo, em 8 de novembro de 2003, o "Ato" foi antecedido por uma palestra de Zuenir Ventura sobre o mesmo tema.
Por saber da presença de Zuenir, feliz pelo acaso, levei o meu exemplar do seu livro - 28ª edição -- para enriquecê-lo com o autógrafo do autor e ganhei a seguinte dedicatória:
"Por esse nosso reencontro, Mario, o meu abraço emocionado. Só não quero esperar mais 20 anos para te rever".
Lembrança puxa lembrança e lá estava eu em outro concurso de cartazes.
Ditadura Geisel, 1977. Fui a Brasília, Ministério da Saúde, participar da escolha de um cartaz num concurso feito entre escolares do 1º grau, parte da campanha contra a esquistossomose que estava muito incidente nas regiões atravessadas pelo Rio São Francisco.
Coube-me a presidência do júri e fiquei só na escuta enquanto os jurados discutiam o material apresentado. Duas percepções foram nítidas: os alunos haviam recebido aulas esclarecedoras sobre a doença mais conhecida naquela região como xistossomose e transmitida através de fezes; havia um lobby sutil a favor de um dos cartazetes.
Ao abrir a votação, inda que presidindo os trabalhos, por ser o único publicitário participante, disse que me sentia na obrigação de alertar que o aludido cartazete oferecia o risco de ter uma leitura equivocada.
Escolhido por unanimidade outro trabalho e pronta a ata, o ministro Paulo de Almeida Machado foi chamado para encerrar a reunião. Olhou o trabalho escolhido, apontou para o outro não-premiado e indagou o motivo de não ser ele o escolhido, onde havia um menino de cócoras na postura de quem estava defecando nas águas de um rio e a frase "Não faça isto". Expliquei:
- Ministro, o senhor correria o risco de livrar-se da esquistossomose e enfrentar uma epidemia de prisão de ventre. Teria que ser "Não faça isto aqui".
Inté.
* O Troféu Especial de Imprensa ONU é parte das atividades comemorativas do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos 30 anos do Prêmio Vladimir Herzog. O prêmio tem o apoio de mais de uma dezena de entidades e personalidades, entre elas a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).