Um perigoso medo 186818

Por José Antônio Moraes de Oliveira 6n1762

13/02/2025 13:16 / Atualizado em 13/02/2025 13:15
Um perigoso medo

"Para sobreviver é preciso contar estórias". 3nz3w

 Umberto Eco.

De quando em vez, interrogo meus botões do porquê estou escrevendo. Mas até agora não tenho respostas. Um escritor turco, com Nobel em Literatura, fez a mesma pergunta e ouviu que um dia sem escrever é um dia perdido. Já um jovem poeta espanhol, que foi fuzilado pelas costas em Granada, dizia que  precisava escrever para deixar rastros.

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O pensador italiano Umberto Eco disse que cada escritor tem um pacto secreto e invisível com o ato da criação. E que ele não deve esquecer do mundo, mesmo que o mundo já tenha se esquecido dele. Para o pintor impressionista Claude Monet, criar é como um compromisso consigo mesmo. Com 80 anos, quase cego e com artrite, ainda continuava pintando em seus jardins de Giverny. E alegava que era seu coração que manejava os pincéis. Alguns grandes escritores legaram reflexões sobre o ofício de escrever.

Clarice Lispector acreditava que escrever era uma necessidade e que não sabia explicar o que nos leva a escrever. E confessava:

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso.

Quem tentou, sabe do perigo de mexer no que

está oculto no mundo".

Há que concordar com a autora de "A Hora da Estrêla", quando escrever algo verdadeiro a a ser uma real necessidade. Seja pelo desejo de interpretar as emoções do presente ou pela compulsão de decifrar o ado. O mudo desafio de uma folha de papel em branco - ou da tela vazia do computador propõe que o escritor esvazie sua mente e lance a primeira frase. Sem esperar pelo roçar da asa do anjo inspirador. Quando um jovem escritor perguntou a um ganhador de dois prêmios Pulitzer pela receita de escrever, ouviu:

" - Não há regras - às vezes é fácil e prazeiroso; em outras, é como perfurar uma rocha".

Mas talvez quem mais claramente tenha definido as dores e as epifanias do ato de escrever, tenha sido Ernest Hemingway:

"Escreva duro e claro sobre aquilo

que mais o machuca. Vai doer ainda mais

- e você vai gostar. Pode até esmagá-lo

e você vai amar ainda mais".

Para o autor de "O Velho e o Mar" não existia melhor terapia do que escrever:

"Tudo que você precisa fazer é se sentar

diante da máquina de escrever e sangrar".

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