Um perigoso medo
Por José Antônio Moraes de Oliveira


"Para sobreviver é preciso contar estórias".
Umberto Eco.
De quando em vez, interrogo meus botões do porquê estou escrevendo. Mas até agora não tenho respostas. Um escritor turco, com Nobel em Literatura, fez a mesma pergunta e ouviu que um dia sem escrever é um dia perdido. Já um jovem poeta espanhol, que foi fuzilado pelas costas em Granada, dizia que precisava escrever para deixar rastros.
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O pensador italiano Umberto Eco disse que cada escritor tem um pacto secreto e invisível com o ato da criação. E que ele não deve esquecer do mundo, mesmo que o mundo já tenha se esquecido dele. Para o pintor impressionista Claude Monet, criar é como um compromisso consigo mesmo. Com 80 anos, quase cego e com artrite, ainda continuava pintando em seus jardins de Giverny. E alegava que era seu coração que manejava os pincéis. Alguns grandes escritores legaram reflexões sobre o ofício de escrever.
Clarice Lispector acreditava que escrever era uma necessidade e que não sabia explicar o que nos leva a escrever. E confessava:
"Tenho medo de escrever. É tão perigoso.
Quem tentou, sabe do perigo de mexer no que
está oculto no mundo".
Há que concordar com a autora de "A Hora da Estrêla", quando escrever algo verdadeiro a a ser uma real necessidade. Seja pelo desejo de interpretar as emoções do presente ou pela compulsão de decifrar o ado. O mudo desafio de uma folha de papel em branco - ou da tela vazia do computador propõe que o escritor esvazie sua mente e lance a primeira frase. Sem esperar pelo roçar da asa do anjo inspirador. Quando um jovem escritor perguntou a um ganhador de dois prêmios Pulitzer pela receita de escrever, ouviu:
" - Não há regras - às vezes é fácil e prazeiroso; em outras, é como perfurar uma rocha".
Mas talvez quem mais claramente tenha definido as dores e as epifanias do ato de escrever, tenha sido Ernest Hemingway:
"Escreva duro e claro sobre aquilo
que mais o machuca. Vai doer ainda mais
- e você vai gostar. Pode até esmagá-lo
e você vai amar ainda mais".
Para o autor de "O Velho e o Mar" não existia melhor terapia do que escrever:
"Tudo que você precisa fazer é se sentar
diante da máquina de escrever e sangrar".
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