Que tipo de pessoa se acha no direito de determinar quem pode ou não ar de bicicleta na calçada de uma rua? Que tipo de pessoa parte para a agressão verbal ao ver trabalhadores negros perto de sua residência? Que tipo de pessoa reclama com violência física do fluxo de motocicletas próximo a sua casa? Que tipo de pessoa eleva a voz em alguma desavença banal e cotidiana e lembra das diferenças econômicas com a outra parte? E, num gesto de total desprezo com a civilidade e respeito ao semelhante, utiliza uma coleira do seu cachorro para chicotear alguém? 3v5g2d
Sim! Estou falando sobre a sucessão de atos cometidos pela ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias de Sá, filmada xingando e agredindo um grupo de entregadores no bairro São Conrado, no Rio de Janeiro, no dia 9 deste mês. As imagens, feitas por trabalhadores de uma lanchonete no local, mostram que a violência atingiu dois entregadores negros. Com um deles, a agressora, já havia discutido verbalmente no dia 4 por motivo fútil. Ela não queria que o entregador Max Ângelo cruzasse de bicicleta perto dela na calçada.
Certamente, quem é capaz de praticar atos tão violentos e sem noção, aposta muito na impunidade de suas ações. Sandra, recém indiciada por maus-tratos e lesão corporal contra a própria mãe de 77 anos (em novembro de 2022), acumula também registros na polícia de furto de energia elétrica, injúria e ameaça (estes relacionados a uma escola de vôlei, no Leblon). Para ela, a agressão racista contra os entregadores seria apenas mais um na sua ficha nada limpa.
Mas, graças à filmagem das agressões, que viralizou nas redes, o entregador Max Ângelo sentiu-se encorajado a prestar queixa contra a ex-jogadora. Ainda com o som da coleira do cachorro de estimação de Sandra açoitando seu corpo, ele mostrou indignação e desabafou: "ela me tratou como se eu fosse um escravo". E prosseguiu: "só que ela está esquecendo que o tempo da escravidão já acabou há muitos anos, e isso não pode acontecer".
Max, infelizmente, em pleno 2023, ainda existe quem trate o negro como seu servo. E você, lamentavelmente deve vivenciar isso com muita frequência. Há ainda quem, respaldado pela nojenta branquitude, se sinta superior e alimente o racismo estrutural. E você, tristemente deve ser diariamente atingido com isso. Há ainda quem não aceite que o antigo habitante de Senzala vire morador da Casa Grande.
Quem protagoniza atos como os cometidos pela Sandra não pode ser tratado como ser humano. Nem sei como classificá-la porque até mesmo chamá-la de animal irracional seria uma ofensa para os desta espécie.