Um ato que não pode ter sido cometido por um ser humano 92z2m

Por Márcia Martins 201e6b

20/04/2023 14:07 / Atualizado em 20/04/2023 14:06
Um ato que não pode ter sido cometido por um ser humano

Que tipo de pessoa se acha no direito de determinar quem pode ou não ar de bicicleta na calçada de uma rua? Que tipo de pessoa parte para a agressão verbal ao ver trabalhadores negros perto de sua residência? Que tipo de pessoa reclama com violência física do fluxo de motocicletas próximo a sua casa? Que tipo de pessoa eleva a voz em alguma desavença banal e cotidiana e lembra das diferenças econômicas com a outra parte? E, num gesto de total desprezo com a civilidade e respeito ao semelhante, utiliza uma coleira do seu cachorro para chicotear alguém? 3v5g2d

Sim! Estou falando sobre a sucessão de atos cometidos pela ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias de Sá, filmada xingando e agredindo um grupo de entregadores no bairro São Conrado, no Rio de Janeiro, no dia 9 deste mês. As imagens, feitas por trabalhadores de uma lanchonete no local, mostram que a violência atingiu dois entregadores negros. Com um deles, a agressora, já havia discutido verbalmente no dia 4 por motivo fútil. Ela não queria que o entregador Max Ângelo cruzasse de bicicleta perto dela na calçada.

Certamente, quem é capaz de praticar atos tão violentos e sem noção, aposta muito na impunidade de suas ações. Sandra, recém indiciada por maus-tratos e lesão corporal contra a própria mãe de 77 anos (em novembro de 2022), acumula também registros na polícia de furto de energia elétrica, injúria e ameaça (estes relacionados a uma escola de vôlei, no Leblon). Para ela, a agressão racista contra os entregadores seria apenas mais um na sua ficha nada limpa.

Mas, graças à filmagem das agressões, que viralizou nas redes, o entregador Max Ângelo sentiu-se encorajado a prestar queixa contra a ex-jogadora. Ainda com o som da coleira do cachorro de estimação de Sandra açoitando seu corpo, ele mostrou indignação e desabafou: "ela me tratou como se eu fosse um escravo". E prosseguiu: "só que ela está esquecendo que o tempo da escravidão já acabou há muitos anos, e isso não pode acontecer".

Max, infelizmente, em pleno 2023, ainda existe quem trate o negro como seu servo. E você, lamentavelmente deve vivenciar isso com muita frequência. Há ainda quem, respaldado pela nojenta branquitude, se sinta superior e alimente o racismo estrutural. E você, tristemente deve ser diariamente atingido com isso. Há ainda quem não aceite que o antigo habitante de Senzala vire morador da Casa Grande.

Quem protagoniza atos como os cometidos pela Sandra não pode ser tratado como ser humano. Nem sei como classificá-la porque até mesmo chamá-la de animal irracional seria uma ofensa para os desta espécie.