Tributo ao Ranzolin
Por Flávio Dutra

A família, os amigos e uma legião de fãs se despediram hoje de Armindo Antônio Ranzolin, falecido ontem aos 84 anos. Tive a honra, o privilégio mesmo, de trabalhar com ele em duas ocasiões, nas rádios Guaíba e Gaúcha. Foram quase 15 anos de convivência, que resgatei em parte no texto publicado em 16/07/2004, aqui na Coletiva.net, e que reproduzo agora como um tributo a essa grande figura humana, a esse gigante da Comunicação.
Grande Armindo (publicado em 16/07/2004)
Certamente, não fui o único a perceber quando engasgaste no Gaúcha Atualidade da última sexta-feira ao leres o comunicado oficial da tua saída da direção da Rádio Gaúcha e o texto, suponho da tua lavra, de despedida para o nosso Baggio. Mas seguramente estou entre aqueles, grande Armindo, que têm condições de avaliar bem a sinceridade das tuas palavras ao Baggio e o quanto está sendo difícil este momento para ti - e aqui já começa o meu reconhecimento pelo que representaste para um grupo de profissionais desta praça, entre os quais me incluo com muito orgulho.
A gente a dos 50 e começa a ficar saudosista, melancólico, por isso é inevitável para mim lembrar aquele dia, em 1976, quando conversamos pela primeira vez e me convidaste para assumir a coordenação de esportes da Rádio Guaíba. Confesso que no primeiro contato te achei demasiadamente formal e didático de exasperar. Me assustavam ainda aquelas mãos grandes que desabavam com peso e força nas nossas costas, à guisa de cumprimento, a voz grave e o erre escandido, tudo isso, grande Armindo, potencializando minhas angústias diante do desafio de me integrar a uma equipe cheia de estrelas.
A verdade é que continuaste formal, mas logo ei a conhecer outras facetas tuas, grande Armindo. O Armindo agregador e líder, que ava enorme credibilidade, o Armindo que transbordava entusiasmo diante do que acreditava, o Armindo detalhista no planejamento e na execução dos grandes projetos, o Armindo íntegro até a medula nas relações pessoais e profissionais, sem esquecer o amoroso Armindo na relação familiar com a Iara, o Ricardo, a Cristina e os netos que começam a povoar a tua vida de menino sessentão.
De minha parte, foram sete anos de convivência mais do que profissional na Guaíba e outros sete na Gaúcha. Enfrentamos juntos muitas jornadas - na ampla acepção do termo -, uma parceria às vezes sofrida, mas sempre gratificante no final, nas grandes coberturas das copas do mundo, das eleições e de tantos outros acontecimentos esportivos e do jornalismo, lembra, grande Armindo? Gestor e comunicador convivendo sem antagonismos, ao contrário, o lado racional complementando o Armindo "artista", foste o exemplo mais bem-sucedido de uma raça em extinção.
E é preciso falar do teu amor pelo rádio, que acabei compartilhando estimulado pela tua vibração. E a guerra contra a concorrência? Aí mesmo é que tu crescias, grande Armindo. E quando reinventaste a Maratona de Porto Alegre, só para citar um dos projetos que abraçaste com entusiasmo e hoje é uma realidade que nos orgulha?
E depois de tudo, calou fundo quando registraste, com uma ligeira ponta de ressentimento, que eu estava fugindo, "pela última vez", das nossas parcerias, naquele ano em que deixei a Gaúcha para enfrentar novos desafios, os desafios que eu havia me imposto. Só que o divórcio foi apenas profissional, pois bem sabes, grande Armindo, que eu continuei acompanhando a tua trajetória, as tuas conquistas, entre elas a preocupação permanente em abrir espaço para o surgimento de novos talentos, e a tua tranqüilidade no difícil momento da transição do esporte para o radiojornalismo, enfim, as tuas multifacetas, uma das quais se rompe agora.
E aqui estou eu a escrever este quase bilhete, me perguntando se não estou sendo piegas demais, se não está cheirando a necrológico, se não estou a lamentar uma ruptura para a qual, bem sei, havia muito estavas te preparando. Menos mal, meu bom Armindo, que o comunicador permanece e vamos poder acompanhar tua voz e tuas idéias, ambas muito claras, todas as manhãs na Gaúcha.