Três riquezas

Por José Antonio Vieira da Cunha

A notícia que repercutiu muito bem na semana foi a decisão unânime do STF permitindo que cidadãos façam o plantio de maconha para fins medicinais, em uma decisão inédita que considerou que o assunto envolve não só saúde pública como a própria dignidade da pessoa humana. A cada rodada em que este tema é debatido a sério, a aversão dos órgãos governamentais do setor e em especial da indústria farmacêutica vai perdendo terreno e o obscurantismo é aplastado.

Está na hora de Anvisa e Ministério da Saúde tratarem do plantio de maconha com a atenção que o assunto exige, sem falsos moralismos nem meias verdades, isto é, sem estigmatizar a maconha como uma planta do mal, quando é exatamente o contrário. Já dei depoimento pessoal a respeito aqui sobre seus incontáveis benefícios. E em uma simples guglada pode-se verificar quão ricos são os históricos de pacientes que se trataram com ela. Sobram casos emocionantes de pessoas com filhos que sofriam dezenas de convulsões por dia e precisavam recorrer ao pronto socorro de duas a três vezes por semana - e, a partir da terapia com cannabis, viram o quadro mudar da noite para o dia, a ponto de não precisar mais de socorro médico.

***

Esta é para os dois ou três publicitários que me leem, e também seria para os donos dos grupos de comunicação, se me lessem. Viram o último levantamento do Instituto Kantar Ibope sobre o volume da verba publicitária que circula no país? Cresceu 29% em 2021 em relação ao ano anterior, e o bolo chegou a R$ 69 bilhões. Entre todos os setores que movimentam verbas - serviços ao consumidor, comércio, financeiro, farmacêutico, etc - o que chama especialmente atenção é a verba de governos, identificada no estudo como "istração pública e social". Pois revela que, ao contrário da lenda que circula livremente pelo meio publicitário, governos não têm nem 10% da força que dizem ter, ou que os publicitários pensam que têm. O número não mente: é o setor que menos investiu, num total de R$ 719 milhões, isto é, pouco mais de 1% (um por cento!) do dito bolo publicitário. 

***

O João Souza seguirá muito vivo em minha memória. Foi um ser humano digno e ético, como Fraga e eu registramos no artigo publicado aqui. Enfatizei que foi exemplar e inspirador, e motivos para isso não faltam. Tive a felicidade de iniciar em redação de jornal na Folha da Manhã, em 1970, como um jovem repórter cercado por alguns luminares como o João, mais Florianinho Soares e Floriano Correa, duas mulheres ativas e vanguardistas como Laila Pinheiro e Núbia Silveira (que fez uma linda homenagem, não deixe de ler aqui), e alguns jovens que iriam se notabilizar na profissão, como Carlos Urbim, Clóvis Ott, Carlos Karnas. João era sempre um porto seguro para iluminar caminho e amainar ansiedades, e distribuía conselhos com aquela simplicidade de quem está apenas dando uma dica ao ouvinte. E estes ensinamentos sábios e sempre ponderados ele trouxe também para a nossa Cooperativa dos Jornalistas, onde em certo período foi conselheiro de istração. Por tudo, e não por acaso, foi um dos padrinhos de meu casamento civil com Eliete, no longínquo 1972. Segue tendo todo nosso respeito e imensa iração.

***

E a Polícia Federal segue sustentando que o assassinato de Bruno e de Dom não teve mandante nem organização criminosa por trás dos crimes. Os assassinos teriam agido sozinhos, uma conclusão a que a PF chegou antes mesmo de qualquer investigação formal. Ah, conta outra, Polícia Federal. Em vez de lorota, investigue a sério, por favor.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

Comments