Todo fã ama odiar
Por Luan Pires

Já ouvi, com as orelhas que não tenho, que paixão e ódio são opostos. Como se fossem luz e escuridão, água e fogo, razão e delírio. Mas eu enxergo de tão de cima e de tantos lugares, que as fronteiras são mais claramente borradas, digamos assim. E a verdade é bem menos poética do que vocês gostam de gritar.
Vou me permitir ser piegas pra dizer que a paixão é devota. Ergue estátuas, acende velas, coloca nomes em listas. Mas basta um tropeço, um desvio na narrativa, e o que antes era adoração se converte em fúria. O fã se transforma em carrasco. O aplauso vira silêncio. O elogio se torna escárnio. A mesma boca que grita o nome da musa hoje, amanhã cospe qualquer coisa com um esquecimento conveniente. Como se a paixão, quando intensa demais, só soubesse terminar de um jeito: queimando.
Vocês não amam. Vocês colecionam ídolos até que eles escapem do roteiro esperado. E quando isso acontece, quando ousam brilhar um pouco fora do enquadramento, o que era paixão vira ressentimento. O que era exaltação se torna rancor.
Eu só observo tomando meu chá de sentimentos humanos e humor duvidoso. Porque já sei: daqui a algumas décadas, o que era justo, deixará de ser. E vice-versa. Nada atiça tanto a paixão quanto a nostalgia. E, ironicamente, nada alimenta mais o ódio do que a ilusão de que, no ado, tudo era melhor.
No fundo, vocês não mudam. Apenas esquecem.
Com Amor, Vida.