Todo apoio e solidariedade para Natasha

Por Márcia Martins

Natasha Ferreira, eleita em outubro do ano ado, com 4.718 votos, tornando-se a vereadora travesti mais votada da história da capital, líder da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara Municipal, sofreu ameaças de morte na segunda-feira (14). Sua eleição representa um marco fundamental na luta por direitos, visibilidade e dignidade da população LGBTQIAPN+. Talvez isso tenha irritado muito quem lhe ameaçou e sentiu-se totalmente à vontade para proferir agressões transfóbicas à vereadora e sua equipe por meio de uma ligação telefônica.

Saber que a população LGBTQIAPN+ tem agora uma voz forte e potente na Câmara de Vereadores de Porto Alegre pode ter incomodado o agressor? Ou saber que a luta pela igualdade será uma pauta importante no atual período legislativo da Câmara de Vereadores? Ou ainda que Natasha, militante desde os 13 anos, estará muito atenta na defesa de uma sociedade mais justa e sem preconceito e discriminação?

O que o agressor - até o momento um homem ainda sem identificação - não sabe é que Natasha é um dos nomes mais promissores da bancada de esquerda na Câmara Municipal. Que Natasha não se curva diante dos poderosos. Que jamais irá se calar diante de qualquer injustiça. Que ergue a sua voz na defesa dos direitos de todos, todas e todes, e não só da população LGBTQIAPN+.

Da militância política, principalmente na eleição de outubro de 2024, conheci um pouco a garra, a coragem e a disposição de Natasha. Nos atos que participei, também como militante de esquerda, ouvi alguns posicionamentos firmes de Natasha. E nas caminhadas que fiz, no primeiro e segundo turno, Natasha era sempre presença de destaque. Mas, fiquei positivamente entusiasmada ao ver seu desempenho em algumas votações decisivas na Câmara de Vereadores nos primeiros meses deste ano.

As ameaças direcionadas à Natasha, que registrou Boletim de Ocorrência na Delegacia de Combate à Intolerância de Porto Alegre, é mais um caso de violência política, com o objetivo claro de tentar enfraquecer seu mandato. E, principalmente, de inviabilizar quem luta pela dignidade da população LGBTQIAPN+. Em entrevista ao Brasil De Fato, a vereadora disse: "a violência política virou uma regra, uma forma de fazer política. É um símbolo de como eles não têm mais receio de nos ameaçar".

A parlamentar, que é um exemplo de resistência, coragem e compromisso com uma sociedade mais justa e inclusiva, afirma: "quando a gente fala sobre violência política de gênero, isso também se aplica às pessoas trans, que têm três vezes mais chances de ameaças".

Pesquisa realizada pelo Observatório Nacional da Mulher na Política e Comissão da Mulher na Câmara dos Deputados revelou aumento no número de casos noticiados de violência política de gênero no período eleitoral de 2024, em comparação ao mesmo período de 2020.

E o Brasil registrou 291 mortes violentas de pessoas LGBT+ ou movidas por LGBTfobia no ano ado, o que representa um aumento de mais de 8% em relação a 2023. Conforme levantamento anual da Organização Grupo Gay da Bahia, o país segue como líder desse tipo de crime. Os dados relativos a 2024 representam um óbito violento a cada 30 horas.

Natasha, com certeza - pelo seu histórico - não se sentirá intimidada com as ameaças. E deverá fazer disso um motivo a mais para seguir fiel aos seus princípios e na defesa de tudo aquilo que acredita. Precisamos de mais parlamentares como a Natasha. E de punição exemplar a toda violência política.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve agens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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