Tesão e esperança
Precisamos, é claro, ser informados pela mídia sobre os acontecimentos globais mais importantes. É para isso que ela existe, em primeiro lugar. Abastecer-se de …
img src="fotos/coluna_eliziario_18_09.jpg" align="right"> Precisamos, é claro, ser informados pela mídia sobre os acontecimentos globais mais importantes. É para isso que ela existe, em primeiro lugar. Abastecer-se de tais informações, além de vital para a sobrevivência no competitivo mundo de hoje, nos garante uma compreensão mais clara do mundo, embora talvez fosse mentalmente mais saudável permanecer na ignorância. É pouco edificante conhecer em profundidade a intolerância, a violência, a exploração, a indignidade humanas, enfim, todas estas coisas capazes de nos levar ao desespero ou, no mínimo, a crises existenciais profundas, em relação às quais adoto a postura do Cazuza, de pagar a conta do analista para nunca mais ter que saber quem eu sou.
Pode não ser edificante, mas é crucial. O desconhecimento das massas é útil aos opressores, do grande ditador à gangue do bairro, do empresário injusto ao marido violento. A mídia, em tese, deveria militar ao lado dos oprimidos, embora se saiba que não é bem assim quando a situação ocorre em nosso pátio. Torna-se fácil, e covarde, denunciar abusos longínquos e depois se encolher na hora de apurar coisas graves e tão próximas, porque aí entram interesses econômicos e, pensando bem, a imprensa conclui que não são tão graves assim. A fome das crianças da África é, por certo, mais dramática, digna de ensaios na National Geographic, mas a fome ali da esquina dói do mesmo jeito na barriga dos inocentes.
Toda essa reflexão algo sombria é para dizer que de vez em quando dá vontade de me desligar do noticiário, tamanho é o baixo astral e a quase inutilidade, tão raras são as vezes em que mídia consegue ser realmente relevante no sonho de mudar o mundo. Mas somos profissionais da área, não podemos nos desligar, e isso ajuda a explicar o alto índice de neurose e angústia nos que contraem este ofício. Mas recomendo a quem possa que o faça, que se desligue de vez em quanto, pelo menos até a imprensa entender que, se não faz mesmo muita diferença, que ao menos não se exceda nas tintas dramáticas e mostre sem os habituais constrangimentos aquela parte do mundo que gostaríamos que fosse a predominante, à qual ocasionalmente, e com sua proverbial arrogância e afetação, classifica como fútil. Aquela parte da vida cheia de tesão e esperança.
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