Tempo de recordações

Por Flávio Dutra

Será nesta terça-feira o lançamento do livro que resgata um recorte dos anos 1960 no bairro Petrópolis, quando, com meu amigo Piero D'Alascio e meu irmão Tadeu, fundamos o aguerrido Grêmio Esportivo Tupi. Por iniciativa do Piero, o livro "G.E Tupi, sonhos de guris & outras histórias de Petrópolis" começou a tomar forma há cerca de um ano. O convite para contribuições a dois ex-laterais do time, o Léo Ustárroz e este que vos fala, resultou na promissora co-autoria da obra, discutida e celebrada em muitas rodadas de bons tintos na morada dos D'Aláscio. Mais do que a saga dos garotos que sonhavam em trocar as peladas nas calçadas pelos embates no campo de verdade da praça Tamandaré, o livro apresenta divertidas histórias vivenciadas em Petrópolis ou em excursões pelo interior, além de resgatar figuras icônicas do bairro, como o Toniolo, que vai estar presente no lançamento. A seguir, reproduzo uma das histórias do livro.

Um susto nos jogadores do Inter

Nos campeonatos municipais promovidos pelo Serviço de Recreação Pública da Prefeitura (embrião da atual Secretaria Municipal de Esportes), era comum jogarmos contra times das categorias inferiores, infantis e infanto-juvenis, da dupla Gre-Nal. Um dos enfrentamentos contra o Inter, treinado pelo grande descobridor de talentos Jofre Funchal, foi em novembro de 1967, no campo do Parque 1º de Maio, no IAPI.

Foi um jogo duríssimo, que terminou empatado em 1 x 1 no tempo normal, com vitória colorada nos pênaltis, por 5 x 4. A partida valia uma vaga para a fase seguinte e o Tupi acabou desclassificado. Mas empatar contra o Inter era uma façanha que mereceu muitas comemorações da grande e ruidosa torcida que levamos ao IAPI. Na época, a gurizada do Tupi fazia uma coleta entre todos os simpatizantes e alugávamos um micro-ônibus da Transportes Sentinela para conduzir a delegação e parte da torcida, aí incluída uma banda e seus instrumentos de percussão. E assim chegávamos cheios de bossa, altivos e motivados, nos campos adversários. Sucede que após o embate contra o Inter, no retorno para Petrópolis, encontramos seu Jofre, humildemente cuidando do saco do uniforme, e mais alguns jogadores colorados à espera do ônibus de linha numa parada do IAPI.

 - Para! Para! Para o ônibus que nós vamos dar uma carona para esses maloqueiros do Inter, - alguém gritou. 

O micro-ônibus já estava lotado de jogadores e torcedores, a batucada e as bebidas corriam soltas, mesmo assim abrimos espaço para os caronas, que entraram setrosos. Era a hora da desforra. Logo começaram as provocações:

 - Agora vocês vão levar um pau, ouviu-se lá do fundo. - Vocês não vão sair vivos desta, ameaçou outro. 

- Ganharam no jogo, mas vão perder na briga, prometeu mais alguém.

Seu Jofre sorria amarelo e os guris colorados arregalavam os olhos, assustados, cada vez que um dos nossos gritava alguma coisa ou ameaçava partir para a agressão. Na verdade, tudo não ou de uma brincadeira agressiva, de muitas ameaças e nenhuma ação. E a delegação colorada foi levada até seu destino sem maiores percalços. Estávamos por demais eufóricos com o resultado para provocar confusões. A carona, com toques de humilhação ao grande Inter, era a melhor revanche para os brancaleones de Petrópolis. 

Lançamento do livro G.E Tupi - sonho de guris & outras histórias de Petrópolis.

Local: Bar e Restaurante São Rafael, av. Protásio Alves, 2720

Horário: das 17h até o último autógrafo

No local haverá um ponto de recolhimento de cobertores, produtos de higiene pessoal e alimentos, em parceria com o Gabinete da Primeira-dama de Porto Alegre.

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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