Teatro, dança e cama
A rotina pode ser um câncer. A criatividade, chave de mantermos abertas as portas da mente, é pérola rara, se ainda em menor número …
A rotina pode ser um câncer. A criatividade, chave de mantermos abertas as portas da mente, é pérola rara, se ainda em menor número considerarmos as ostras. Tudo isso para dizer que hoje está difícil, e desdenhar-se é a única diversão. Fu Lana estava de mau humor. A premiação do Açorianos de Teatro e Dança e Prêmio Tibicuera do Teatro Infantil em Porto Alegre, transmitida terça, dia 23 de março, na TVCom, foi uma obra. Fu Lana escondia-se sob a coberta, tentando esquecer do ataque alérgico que quer acabar com ela em 2004. Na tevê, um zap de 2 a 66 a fez parar no canal gaúcho 36. Do Teatro Renascença, a poucos metros do apartamento úmido de Lana, o evento ao vivo a distraiu e pacificou. Pelo menos poderia imaginar ter ido à festa. Por vezes pensou: podemos ser tão pobrinhos com aqueles papeizinhos laminados pendurados no alto do palco, e por vezes tão sérios e sisudos, como disse o prefeito João Verle ao fazer uma revelação: não existe assessor para Teatro e Dança em seu gabinete, apesar do prêmio ser municipal. Teria de falar de improviso. Parabenizou a todos pelos prêmios e fim. Lana concordou com o prefeito, ele precisava mesmo de um assessor especial para o assunto. Apesar de reconhecer o secretário de Cultura do município, Lana se surpreendeu com Vitor Ortiz. Ele não parecia aquele substituto que vira em um palco um tempo atrás. Estava muito bem na foto. Bem também esteve a atriz Renata de Lélis ao buscar sua estatueta: aproveitou a divulgação pela tevê e mandou ver na reivindicação por mais espaço físico para o teatro e a dança no Estado, seguida por seus companheiros emocionados a cada discurso de dez segundos. A surpresa final foi a premiação do espetáculo O Cavaleiro da Mão de Fogo, em teatro infantil. É o teatro de bonecos competindo com atores de verdade. Fu Lana até esqueceu a chiadeira no peito e adormeceu profundamente em seu travesseiro novo.