Abri a ZH de sexta, dia 28, e dei de cara com uma nota do Informe Especial dizendo que renomado motel de Porto Alegre estava inaugurando uma suíte com 300 metros quadrados e capacidade para 70 pessoas, com pista de dança, sauna e, sim, churrasqueira. Mas que tal? Bah, tchê, não segurei o riso, não tem como. Há tempos que venho dizendo, o Rio Grande é surrealista e não faz parte do Brasil, que, aliás, ainda vai se divertir muito com a nossa novidade. Mas que tal? Trinta e cinco baguais, e a outra metade prendas, vão para um fandango hedonista no motel, todo mundo pilchado. Imagina, orgia campeira com churrascada, muito mate, muita canha, tábua de carne em cima da mesa moderninha da suíte.
Bueno, suponho que no começo deve haver uma espécie de "quebra gelo" com declamações exaltadas ao som da "acordeona", e o trago rolando solto. Logo começa a dança e o ambiente vai se tornando mais liberado. O calor humano (e o da churrasqueira) faz com que as pessoas comecem a tirar a roupa, fiquem mais à vontade, e vamos que vamos. Alguém grita em tom de bravata: "Dou um boi pra não entrar numa briga, e uma boiada pra não sair dela". Risos e aplausos. Um outro joga para cima um punhado de preservativos: "Eeeeh, camisa de vento pra todo mundo". Não sei, não, mas tudo leva a crer que, com os vapores subindo para a cabeça, o nível vai baixar.
Fatalmente vão surgir as brincadeiras de mau gosto do tipo: homem dá um tapa no bumbum da prenda e diz: "Mas que baita picanha, comadre". O outro grita para o churrasqueiro: "E aí, fulano, o salsichão está no ponto?". "Qual deles?" - responde o churrasqueiro alegremente. Enfim, o ambiente propicia esse tipo de humor, digamos, rudimentar.
O Patrão, ainda que neste tipo de circunstância, tenta botar ordem na casa: "Óia lá, gente, tudo com muito respeito, quem tem pressa come cru". Entra a madrugada e o cenário é de confusão total, fazendo lembrar as gravuras do Inferno de Dante. Aqui e acolá se escuta: "Bah, tchê, mas que bom que tá". Outro diz: "Que tal a tua?". "Especial de primeira, fora de série" - Gaudério gosta de dizer "fora de série". E dê-lhe acordeona de fundo, e dê-lhe picanha, e dê-lhe salsichão.