Susan Boyle, minha ídola
Eu tinha uma lista de assuntos pregados no desktop para usar neste fim de semana aqui na Coletiva (enfim, aprendi que é a e …
Eu tinha uma lista de assuntos pregados no desktop para usar neste fim de semana aqui na Coletiva (enfim, aprendi que é a e não o Coletiva). Tudo com os devidos links, como o horror do pai que matou o filho com tiro no nuca, um ilustre advogado, professor e escritor que ainda teve a cara-de-pau de deixar uma carta dizendo que assassinava o filho para evitar-lhe futuras infelicidades. Tinha também a miss que perdeu a coroa porque foi sincera dizendo que preferia casamento entre homem e mulher quando o malandro do júri (certamente bem pago para isso e já sabendo o que ela responderia e a repercussão que causaria) lhe perguntou o que ela achava do casamento gay. Também queria falar de outra miss, a da Austrália, que revelou, em fotos, sua anoréxica figura.
Aí, pensei em minha mãe, 80 anos, olhos de lince para a vida e crítica feroz 24 horas por dia, que há tempos deixou de ler jornais por não querer ver desgraças (acusando meu pai, inclusive, quando ainda tinha seu controle cognitivo) de se abastecer em sangue e infelicidade e decidi falar aqui de Susan Boyle.
Até eu? Sim. E mais uma vez, porque já fiz um post sobre ela no Clínica da Palavra. Vi hoje, na Globo, que é o vídeo mais assistido do momento no youtube e a mulher mais comentada no mundo. Ok. No mundo tal como conhecemos - com o à internet, informação, etc. Mas é o prato servido nas mídias, nos blogs em especial.
Uma blogueira comentou lá no meu espaço que achou palhaçada a cara de espanto dos jurados e que televisão é tudo mentira. Claro que os caras já sabiam que ela cantava bem. Claro que foi tudo bem armado para a velhota (gordota e malvestida para os padrões midiáticos que vendem bem) ter sucesso em sua apresentação não só no programa de calouros, mas em toda a agenda pré-programada de entrevistas e, evidente, gravações. Não tenho mais idade para acreditar em papai noel, bem que eu queria.
O que me interessa, porém, no caso, não é a armação ou não do sucesso. O talento ou não da solteirona de cabelo que parece peruca despenteada.
Me interessa é que uma mulher fora dos ditos padrões está aí, movimentando internet e até jornais que agora querem porque querem desmentir tudo como se isso desmerecesse o que ela é. Digamos que para Susan chegou a hora e ninguém tasca.
Já sei: ela até mexeu no visual, botou uma roupinha menos conservadora ou ao menos cobriu aquela que deve estar no roupeiro desde os anos 50. Que me importa: Susan Boyle resgata todas as mulheres de mais de 40 com pneus em volta do que um dia foi cintura, queixo-duplo que nem écharpe pode disfarçar, barriga que não tem paletó Armani que esconda. Ela tem coragem. Mais que isso: ela não tem medo de botar a bunda na janela. Há tempos vem gramando em busca de reconhecimento, cantando aqui e ali, vendo a cara de deboche das magrinhas de cabeça vazia que ficam na plateia, dos marmanjos que só se preocupam com o conteúdo simbólico sexual das criaturas do showbizz que Madonna tão bem representa.
Não me interessa nem se ela vai se manter no topo ou vai alguém que faz sucesso e se apaga.
Saboreio o que aconteceu com esta mulher sem graça fisicamente que, como milhões, fica no anonimato porque não se enquadra em molde algum do que o mundo espera dos que almejam o estrelato.
Não tem moral da história. Só o fato.