Sueltos
O vocábulo espanhol suelto, usado na imprensa brasileira como notícia solta, pequena, acho que deixou de ser usado assim que nasci. Acabo de falar …
O vocábulo espanhol suelto, usado na imprensa brasileira como notícia solta, pequena, acho que deixou de ser usado assim que nasci. Acabo de falar ao telefone com o gaúcho internacional, Fausto Woffenbüttel, escritor e jornalista conhecido como Fausto Wolff. Seu último livro, lançado no Rio, semana ada, "A milésima segunda noite", posso recomendar tranqüilo, mesmo antes da leitura que será iniciada hoje. Fausto ganhou da ditadura um auto-exílio legal, pois foi ensinar Literatura Brasileira nas Oropas, ficou boa parte distante dos anos de terror e ainda viveu as regalias de um cidadão do Primeiro Mundo. Hoje, Fausto e Antonio Torres assinam colunas diárias no Caderno B do JB onde fazem rodízio com Marina Colassanti, Fritz Utzeri e o inventor, há décadas, do próprio Caderno, Reynaldo Jardim, que está dando um show de bola. Há, ainda, a página "Livro", publicada nos sete dias da semana. Quem gosta de imprensa-cabeça digere um excelente prato feito.
O paraense Franco Paulino, antes de vir para o Rio, anos 60, escrevia sobre música popular brasileira, na Última Hora de São Paulo, onde morava. Hoje, publicitário renomado por décadas de criatividade, lança um livro que a crônica especializada já colocou na prateleira dos obrigatórios para quem se interessa pelas melhores raízes de nossa música:"Padeirinho da Mangueira, retrato sincopado de um artista". Franco Paulino era um dos atletas que sábados, domingos e feriados jogava vôlei na praia, divisa Ipanema/Leblon, rede de artistas e publicitários, onde iam Macedo, um dos emes da MPM, Monserrat, o gaúcho jornalista e publicitário, Chico Buarque, Magaldi, da legendária Magaldi/Maia, de São Paulo, Paulinho da Viola, Capinam, parceiro de Paulinho em "Coração Imprudente", baiano, poeta, compositor, parceiro de Edu Lobo em "Ponteio" e de Caetano em "Soy loco por ti, América". Monserrat e Capinam trabalhavam comigo na Standard Propaganda.
No verão de 1957, durante o Festival Nacional de Teatro Amador, no Rio, organizado pela atriz e empresária teatral Dulcina de Morais, à frente da Fundação Nacional de Teatro, Antonio Abujamra, que eu conhecia há alguns anos, na Bibloteca Municipal de São Paulo, cidade onde eu morava e ele ava as férias escolares, nos reencontramos. Abu, paulista, estudava em Porto Alegre, residia com um irmão e era o principal animador do Teatro Universitário. Abu convidou-me para dirigir uma peça para o Teatro Universitário, dirigi duas e uma terceira para outro grupo e voltei para o Rio, onde inauguramos um teatro de arena em Campo Grande, Zona Oeste carioca. As amizades feitas nessa primeira ida ao Sul convidaram-me a voltar, voltei, completei sete anos estudando gauchismo com Simões Lopes Neto e O Tempo e o Vento, do Erico. Em 64, face ao golpe, publiquei a Carta Testamento de Vargas e a foto do velho na UH gaúcha, onde eu trabalhava. E fugi. Sexta-feira, no Centro Cultural da Telemar, no Rio, fui assistir "A Voz do Provocador", texto, direção e interpretação solo do "velho Abu", como ele se chama. Desses momentos raros de inteligência e lucidez não dá para escrever um "suelto". Vou tentar compactar amizade, ternura, alegria, sentimentos, idéias, tudo que me deixou ainda mais feliz no último fim de semana, na coluna da semana que vem. Sem nada que beire a saudades, pois Abu e eu ainda não ganhamos tempo para fugir do presente.
Inté.