Solitários e Reclusos

Por José Antônio Moraes de Oliveira

"'Quero que me deixem em paz' ".

Greta Garbo.

A midia sempre evitou o assunto, mas alguns célebres e famosos no cinema, arte e no show-business eram obcecados - melhor dizendo paranóicos - pela solidão. Um paradoxo difícil de entender, por mais que tentassem ficar sós (como na frase emblemática da atriz sueca) continuavam escravizados pela fama. Raros conseguiram fugir dos holofotes para serem impiedosa e rapidamente esquecidos.

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O escritor Marcel Proust se recolhia em uma sala forrada de cortiça para evitar os ruidos das ruas parisienses. Ernest Hemingway era capaz de escrever por horas em uma mesa de bar, mas seus melhores romances foram criados na quietude de uma cabana nas montanhas ou em sua finca em Havana. A lista dos que tentaram ficar sós tem grandes poetas e escritores - Oscar Wilde, Emily Dickinson, J.D. Sallinger, Emily Bronte. E cineastas de primeira grandeza como Charles Chaplin, Howard Hughes e Stanley Kubrick.

O escritor Aldous Huxley afirmava que os famosos não resistem ao que chamou de Liturgia da Reclusão, um equivalente ao mito clássico Descanso do Guerreiro. Para ele, não cabe ao ser humano evitar ou modificar um destino traçado. Alguns dos episódios mais conhecidos lhe dariam razão

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Como o caso exemplar do pioneiro e bilionário Howard Hughes. Ele desenhou, construiu e pilotou o maior avião do mundo; a seguir, reinventou o sex-appeal no cinema com O Proscrito, ajudado pelo busto generoso de Jane Russel. Então, no auge da fama, se isola em um quarto escuro na cobertura de seu hotel em Las Vegas e a a se alimentar de leite e chocolates.

Depois de pronunciar sua frase mais famosa, em Grand Hotel, Greta Lovisa Gustafson abandona Hollywood e se recolhe às sombras. Recusa os pedidos de entrevistas e joga no lixo as milhares de cartas de fãs que chegam em caminhões. Um gesto que choca o mundo do cinema, mas lhe concede a aura de grande diva. E uns 50 anos depois, quando morre, a revista TIME coloca sua foto na capa e a legenda A Última Dama Misteriosa.

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Howard Hughes e Greta Garbo devem ter sido os últimos super-célebres a abandonar a fama e se esgueirar para o anonimato. E que dificilmente serão replicados em nossos tempos. Hoje seriam motivo para maldades, estranhezas, além da perda de contratos e fuga de patrocinadores.
Abrir mão do Doce Perfume do Sucesso não é coisa para mortais comuns.

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem agens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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