Solidariedade aos pais, alunos, professores e funcionários

Por Márcia Martins

Como mãe dedicada que sempre fui e continuo, mesmo que a minha filha já esteja encaminhada na vida (meu Deus, é sério que eu usei esse termo tantas vezes pronunciado pela minha mãe enquanto eu ainda era uma adolescente rebelde?), fico ansiada se não tenho notícias dela, estranho um tom de voz diferente quando falamos e angustio-me se ela diz que apresentou qualquer sintoma de doença. Gabriela não é mais uma criança ou uma adolescente. Um belo dia, eu percebi que ela havia virado uma adulta, dona de suas encrencas, cursando a segunda graduação, correndo atrás do dinheiro e feliz morando com sua esposa.

Apesar da maturidade conquistada e da independência financeira, todos os dias eu me preocupo se ela teve algum problema no trabalho, se a dor de cabeça foi embora, se tem planos para o feriado, se poderá vir almoçar comigo no final de semana e voltou sem nenhum arranhão do Grenal que foi assistir na Arena. Mães são assim. Fazer o quê?  Eternas preocupadas. Eternas angustiadas. Mesmo quando os rebentos já soltaram o cordão umbilical.

Há um tempo atrás (talvez até antes da pandemia da Covid-19, não me recordo) circulou uma ameaça de que um louco - com a lição plenamente ensinada pelo então presidente Jair Bolsonaro - invadiria o campus do Vale da UFRGS numa noite tal e iria vandalizar. Pois Gabriela tinha uma cadeira do curso de Políticas Públicas naquele local na data que a ameaça se cumpriria. Implorei para que ela faltasse e usei todos os argumentos possíveis. Mesmo assim, ela compareceu à aula. A ameaça era falsa. Mas meu coração de mãe até hoje tem sobressaltos e dispara ao lembrar o que poderia ter acontecido.

Pois atualmente, somos informados, quase que diariamente, de ataques a creches e escolas que resultam em mortes de professores, funcionários e alunos. E todo dia uma nova ameaça de vandalismo em estabelecimentos de ensino aparece nas redes sociais, alimentando os nossos medos. Este ódio plantado nos últimos quatro anos e a irresponsável liberação das armas vestem de coragem os criminosos.

Neste momento, a educação vive sob ameaça constante. As creches, colégios e universidades abrem suas portas sem saber o que poderá ocorrer até o sinal sonoro do período final. Os pais, professores e funcionários, cada um com a sua fé, rezam, pedem, suplicam que aquele seja apenas mais um dia normal de ensino. Sem medo. Sem ameaças. Sem aluno correndo pelo corredor fugindo de algum louco. Sem professora sendo morta ao tentar proteger um aluno. Sem sangue escorrido nas salas de aula. Sem lágrimas de dor. Sem um corpo estendido no chão.

Solidariedade total aos que frequentam, com uma mescla de pavor e heroísmo, os estabelecimentos de ensino. Solidariedade aos pais, alunos, professores e funcionários que respiram assustados, apavorados, atemorizados. Que esta quinta-feira seja somente mais um dia de aula normal.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve agens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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