Como todo internauta, recebo todo tipo de mensagens. De pedido de ajuda para tratamento de saúde a convite para festas que duram 72 horas, chega de tudo. Algumas abro por curiosidade, outras mando direto para o pequeno céu das mensagens que não li.

Nos últimos dias, recebi, de diferentes remetentes, nove mensagens idênticas recomendando o boicote ao filme "Turistas", que será lançado no Brasil em fevereiro.

Segundo o texto, os personagens do filme vêm ao Brasil, bebem caipirinha e tornam-se vítimas de um "boa noite, Cinderela". Além disso, os americanos acabam perseguidos por uma gangue envolvida com o tráfico de órgãos no Brasil. O boicote seria devido ao fato de que o filme denigre (sic) a imagem do país. E precisa?

O roteiro e as críticas que li acerca do filme permitem que afirme com certeza: não vi e não gostei. O que, aliás, deveria ser a tendência de comportamento dos consumidores de cinema no Brasil: ignorar o filme por absoluta falta de qualidade. Agora, com este alarido todo, as salas correm o risco de lotar.

O que mais chama a atenção, no entanto, é a reação ao filme revelada pelo pretendido boicote e a quantidade de mensagens, demonstrando que muita gente preocupou-se com o tema. Não é para tanto?

Possivelmente, os mesmos indignados de agora ficaram, há algum tempo, diante da televisão até altas horas torcendo por "Central do Brasil" na competição pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Ora, a questão da morte de crianças para utilização de órgãos é abordada pelo filme que, por sinal, foi, parcialmente, financiado por recursos públicos.

Por que será que estas coisas acontecem com o Brasil? Será que estamos dando motivo para nossa imagem ser difamada no exterior? Por que os produtores de filmes deste tipo não localizam seus enredos na Coréia do Sul, na Índia ou no Chile? Será perseguição? Ou será que eles sabem o que anda acontecendo por aqui?

Faz alguns anos que a violência só recrudesce no Brasil. O morticínio generalizado que ocorre no país é assistido globalmente como fenômeno da indústria cultural.

O pessoal da Embratur, ao que parece, está entre os grupos mais incomodados por "Turistas". Melhor fariam se dirigissem sua indignação para os irresponsáveis pelo tráfego aéreo no Desgoverno Lula I, que, com sua sofisticada incompetência, muito mais desgastam nossa imagem no exterior do que um filme de quinta categoria.

O que está por trás desta cólera toda é a aversão latente no Brasil aos Estados Unidos. O que vem de lá, parece, incomoda mais. Basta ver as reações locais às críticas à nossa segurança aérea feitas pelo jornalista que estava no Legacy do acidente da Gol. Será que ele estava errado?

Ou fazemos a lição de casa ou continuaremos jogando fora o sofá, como na velha piada do marido traído.