" Invejo a burrice, porque ela é eterna". 5rb55
Nelson Rodrigues.
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Quem tem mais de 50 primaveras e recorda dos tempos áureos do jornalismo, deve ainda lamentar a decadência do que hoje temos na telinha e no papel. Basta relembrar a diversidade e a vocação para a crítica construtiva dos jornais dos anos 60 e 70. Quando éramos brindados com editoriais autoriais e colunas assinadas por escritores de peso. Uma das inteligências mais irriquietas daquele jornalismo era Nelson Rodrigues. Era um gosto ler suas crônicas sobre a vida suburbana brasileira, que faziam mais sucesso do que as páginas de futebol.
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Jornalista, teatrólogo e estudioso das emoções humanas, Nelson Rodrigues possuia uma impressionante capacidade de dramatizar o cotidiano e escancarar as tragédia humanas. Seus personagens eram marcados por ódio, vingança, ciúmes, inveja e remorsos.
Foi autor de 17 peças teatrais, consideradas como base da dramaturgia do teatro brasileiro moderno. Porém sua imensa popularidade é creditada à coluna A Vida como ela é, publicada na Ultima Hora e em O Globo. Irreverente e questionador, ele atropelava os tabus da classe média e do high society carioca. Foi levado a usar de pseudônimos para escapar da censura oficial e das cartas raivosas dos leitores.
O sucesso começou com Meu destino é pecar, que assinava como Susana Flag. Foram 38 episódios em formato de folhetim que era publicado em meia página dos jornais e depois vertido para o cinema, teatro e radio. Pode-se afirmar que Meu destino é pecar serviu de matriz da atual telenovela, com situações e tipos humanos capazes de alimentar as fantasias do público e garantir audiência. Como já previa Nelson, quando disparava tiradas sarcásticas:
"Os idiotas vão tomar conta do mundo;
não pela inteligência, mas pela quantidade.
Eles são muitos".
ou
" Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos".
ou ainda,
"Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam."
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Nelson Rodrigues colecionava críticas, elogios e xingações. Ora o chamavam de gênio ora de obsceno demais para ser lido em família. Seu biógrafo, Ruy Castro, o apelidou de Anjo Pornográfico, enquanto o político Carlos Lacerda o chamava de tarado. Mas para o poeta Manuel Bandeira, era o maior poeta dramático brasileiro.
Suas peças para o teatro foram censuradas, proibidas, boicotadas e igualmente aplaudidas de pé. Um caso famoso aconteceu com a reestréia de Senhora dos Afogados - que depois de proibida, voltou à cena dirigida por Bibi Ferreira. O escândalo aconteceu no Rio de Janeiro, onde Nelson Rodrigues era unanimidade.
Enquanto metade da platéia gritava:
"- Gênio, gênio!"
A outra metade xingava:
"-Tarado, tarado!".
Nelson Rodrigues morreu em um domingo de verão carioca, vitimado por problemas cardíacos. Sua biografia registra assim naquele dezembro de 1980:
"Aos 68 anos, com uma carreira de sucesso
e pouco dinheiro, ele escreveu um último ato.
Onde não faltou a ironia presente em toda sua vida. No dia de sua morte, o bolão
da Loteria Esportiva no qual participava com os
colegas do jornal fez 13 pontos".
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