Muitos foram os que previram o fim do mundo. Quase todos, até agora, já morreram. Ou seja, não acertaram em suas previsões. As datas "redondas" são um atrativo especial para os apocalípticos. Lembram que havia quem previsse que o mundo terminaria na virada de 1999 para 2000? Pois é.

Mas há um fim do mundo muito pior do que este previsto pelos apocalípticos (quando provavelmente arderemos nas chamas do Inferno). É o fim do mundo com a vida acontecendo. Este, sim, é o caos.

Como todo mundo, estou enojado com os recentes acontecimentos do Congresso. E não só com os desvios de recursos (ao que tudo indica, realmente aconteceram) feito por membros do PT. Mas também enoja ver a postura de nossos congressistas, que se tratam por Vossa Excelência (chega a parecer ironia). Transformaram o país e o Congresso em um grande balcão de negociatas. Vivemos a República Tomaládacá. E, o que é pior, os políticos (há honrosas exceções, sem dúvida, mas infelizmente são a minoria) perderam a vergonha de roubar. Está certo, não são apenas políticos, mas funcionários públicos e privados também. Quando se perde a vergonha de cometer crimes, se perde quase tudo.

Não são apenas ladrões, mas assassinos. Me parece que a sociedade, que ainda elege políticos do rouba-mas-faz, acha que não é muito grave meter a mão no dinheiro público. E acho isto incrível, porque esta sociedade não pensa que:

1)     O dinheiro público sai dos impostos, que nós pagamos. Ou seja, quando um indivíduo lesa o poder público, desviando recursos, na verdade está roubando um dinheiro que é nosso, que custamos tanto a ganhar. Ele está é nos roubando. O nosso dinheiro vai para os cofres do governo através dos impostos que pagamos (altíssimos, exatamente porque há muitos desvios. Se não houvesse tanto roubo, certamente a carga tributária brasileira poderia ser muito menor), seja na forma de imposto de renda, ICMS, IPTU, IPI e muitos outros. Quando alguém desvia dinheiro, praticamente coloca a mão no seu bolso, leitor, e tira de lá aquele dinheiro que você trabalhou tanto para conquistar

2)     Estes indivíduos são assassinos também porque este dinheiro é o mesmo que falta nos postos de saúde, nos hospitais (em que as pessoas morrem na fila, esperando por cirurgias que nunca chegam), na educação (vide sucateamento de nossas escolas públicas), na saúde (políticas de saúde efetivas aumentariam a qualidade de vida da população e diminuiriam o volume de enfermos). Assim, estes amigos do alheio não são apenas ladrões, mas assassinos. Mas isto parece não preocupar muito a sociedade.

Incrivelmente, a sociedade brasileira ira a figura do rouba-mas-faz, e figuras como o velho Gerson (não o jogador, mas o personagem que ele lamentavelmente interpretou naquele comercial). Só se esquece que quem está sendo roubada é ela mesma.

Bom, então é o fim do mundo? Aí é que está. Posso ser muito otimista, mas acho que este fim é o começo de um tempo melhor. Claro, não estou falando que isto vá ocorrer até o final do ano e que entraremos 2006 com o mundo resolvido. Nada disto. Mas que as pessoas não agüentam mais tanta lama, tanta sujeira. As pessoas estão fartas, enojadas. Aí é que pode estar se consolidando a hora da virada.

Meu pai tinha um exemplo para a moda. Dizia ele que a moda funcionava como um pêndulo de um relógio. Ora oscilava para um lado, ora para outro. Quando se ia ao extremo do extremo da oscilação, era hora de voltar. Na verdade, ele não se referia somente à moda, mas à sociedade como um todo. Acho que estamos no limite da oscilação e a hora é de voltarmos a ter um mínimo de dignidade. Vejo esta a chance de a sociedade expurgar canalhas do quilate destes que infestam e apodrecem nossa vida em sociedade. As ONGs, e a articulação da sociedade em torno delas, mostram que estamos, sim, dispostos a fazer a faxina no mar de lama.