Sensores de presença
A gente fica muito importante ao ar pelos corredores aonde as luzes vão acendendo. Fu Lana entrou naquele prédio escuro e não encontrou interruptor. …
A gente fica muito importante ao ar pelos corredores aonde as luzes vão acendendo. Fu Lana entrou naquele prédio escuro e não encontrou interruptor. No entanto, bastou dar um o e os corredores sem viva´lma acenderam suas lâmpadas amarelas. Foi caminhando e na parte escura à sua frente, nova iluminação. Boa essa. Parou em frente ao elevador e nada. Pensou: poderiam existir sensores de presença que chamem o elevador. Desta forma, poderíamos pensar sem perder tempo. Pensar em quê, santo deus? Em economizar a ponta dos dedos?
Um dia, tais sensores estiveram expostos em uma feira de novidades tecnológicas. Eram risíveis. Hoje, estão em qualquer prédio mais simples onde haja um síndico querendo mostrar serviço e que provavelmente tenha algum amigo na empresa de sensores de presença. Para marcar presença.
Pensando bem, inúteis esses sensores. Apenas apertaríamos o botão para acender as luzes, como sempre foi. Fu Lana tem essa mania de resistir às novidades. Parafernália técnica com gosto de conforto. Se der um embaçamento dos captadores de sinais, basta para ficarmos definitivamente no escuro. Velha ranzinza, essa Fu.
Ela deu uma última chance para as novidades modernosas. Levou até a Globaltech uma amiga, pessoa com deficiência física, como se autodefinia a visitante. "Não sou portadora de deficiência e nenhuma sigla que lembra macarrão", dizia a cadeirante a um monitor que apresentava o funcionamento de uma bengala para cegos. Claro que Fu Lana ficou horrorizada com o relato desta estrangeira, que chegou de São Paulo pela manhã, e já no aeroporto internacional Salgado Filho teve a sensação de estar descendo em algum país afastado, para tentar uma figura de um lugar deficiente, pobre e inoperante. Porém, o fato aconteceu em Porto Alegre mesmo.
O comandante do avião pediu um finger para que a nossa querida amiga aterrissasse em solo gaúcho. Apesar de existirem cinco no Salgado Filho, nenhum seria acoplado ao avião. Mandos e desmandos, desceram a coitada (que pesa 80 quilos) pela escada normal e, nessa operação, ainda deixaram escapar um dos braços da cadeira e quase houve um acidente sério. Fu Lana suava ao ver a ansiedade no relato daquela vítima de paralisia infantil desde a infância. Ela deve ter ado por poucas e boas a vida toda.
Na Globaltech, Fu Lana pretendia marcar um ponto para a cidade junto à paulista. Tecnologia não faltará. No entanto, ao descerem do carro, cadê a rampa de o? Não tinha!!! Tiveram que dar a volta, pedir para uns taxistas liberarem uma entrada de serviço e os seguranças removeram as cercas temporárias. Fiasco.
Lá dentro, enfim, vamos a uma cadeira elétrica, que é o mínimo para um local tão avançado, comentou Fu Lana, sem graça.
Nada! Tinha uma cadeira que era utilizada pelo pessoal da manutenção que foi emprestada informalmente para a Fu Lana e sua amiga, e não tinha nem marcha-ré. Cruzes. Que vergonha.
Nos estandes, além da bengala para cegos com os sensores (malditos sensores) na ponta para que o usuário não batesse a cabeça em um orelhão, por exemplo, Fu Lana e sua furiosa acompanhante puderam observar cadeiras de rodas com amortecedores, colegiais que fazem robôs de lego, etc. Tudo muito interessante.
Foram embora com o estupor de quem foi enganado. Voltaram ao carro pelo mesmo caminho improvisado e a paulista desabafou: "Na minha juventude eu exigiria que produzissem uma rampa na entrada principal. Estou ficando velha".
Fu Lana levou a amiga ao hotel e ficou torcendo pelos fingers estarem a postos no dia do embarque. Cruzou novamente o corredor escuro e as luzes pá, acenderam na hora. Desgraçados sensores de presença. Deveriam ser sensores de carências?