Sem querer

Sem querer ser cruel: as piores atrocidades ainda não foram cometidas. Sem querer ser óbvio: tudo que dá certo logo de cara não vale …
























Sem querer ser cruel: as piores atrocidades ainda não foram cometidas.

Sem querer ser óbvio: tudo que dá certo logo de cara não vale muito a pena.


Sem querer ser injusto: se existe alguém honesto em qualquer governo são os que item que roubam.


Sem querer ser amargo: maior que a infelicidade conjugal só mesmo a infelicidade extraconjugal.


Sem querer ser agourento: o dia em que figa afastar mau-olhado será o dia em que a humanidade já estiver cega.


Sem querer ser implacável: os masoquistas dependem mais de nós que deles para serem o que são.


Sem querer ser desmancha-prazer: o orgasmo é apenas um espasmo que não dói.


Sem querer ser cínico: é nos velórios que se vê como o remorso faz mal às glândulas lacrimais.


Sem querer ser cafajeste: todo homem que bate em mulher torna-se maravilhoso enquanto não bate.


Sem querer ser espírito de porco: festa em que há alegria a valer é festa em que os convidados estão se vendo pela primeira vez.


Sem querer ser reacionário: a imortalidade é o perigo mais imediato que a ciência está prometendo.


Sem querer ser doloroso: entre todas as recompensas pelo trabalho, a única invisível é o salário.


Sem querer ser deselegante: a moda dá identidade a alguém assim como as plumas identificam uma baleia.


Sem querer ser gozador: o que melhora a qualidade e o tempero de certos pratos são as boas maneiras.


Sem querer ser escandaloso: as notícias de amanhã envergonharão as de hoje.


Etc.

Tríades

Três coisas que realmente funcionam a todo vapor no Brasil:
a de pressão, sauna e caldeira.


Três coisas incontroláveis:
mão de namorado, conversa de chato e agem do tempo.


Três coisas que dão o que falar:
liberdade de expressão, paredes finas de apartamento e contas
telefônicas.


Três coisas incontornáveis:
cocô de cachorro na calçada, cocô de cachorro na calçada e
cocô de cachorro na calçada.


Três coisas que não têm remédio mesmo:
efeitos colaterais de medicamentos, diagnósticos errados e
reetiquetagem de produtos na farmácia.


Três coisas que merecem atenção de todos nós:
sinal amarelo, sinal vermelho e sinal verde.


Três coisas que todo mundo experimenta:
primeiro choro, segunda masturbação e último suspiro.


Três coisas que empurram o cidadão pra frente:
fila por um lugar na fila, tropeção e polícia nos calcanhares.


Três coisas ique nos tiram a paciência:
impaciência alheia, a calma do próximo e o nosso próprio
nervosismo.


Três coisas marcantes:
ferro em brasa, logotipo ruim e zagueiro violento.


Três coisas que temos na ponta da língua:
papilas gustativas, saliva e desculpas.


Três coisas justas:
sutiã um número menor, melhor distribuição de renda
para armarinhos e advogados.


Etc.

Poeminha afortunado

Não tenho casa
(na praia ou na cidade)
Tampouco carro
ou título de sociedade
Não possuo capital
(nunca recebi herdade)
Muito menos adquiri
bens de verdade
Não sou dono de nada
(nem de mim até esta idade)
Porém muito do que digo
às vezes tem muita propriedade.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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