Sem diploma não há solução

Não quero ar a falsa imagem de "Maria vai com as outras". Não desejo a inclusão inescrupulosa de meu nome em mais uma lista …

Não quero ar a falsa imagem de "Maria vai com as outras". Não desejo a inclusão inescrupulosa de meu nome em mais uma lista de profissionais da comunicação que não devem ser contratados, porque pertencem à espécie daqueles que discutem, pensam, questionam, argumentam e se revoltam. Enfim, ser rotulada com o carimbo pesado da mão patronal como aquela que incomoda. E menos ainda ver escassear, de vez, e sem o capítulo entedioso de que "falta tempo, é muito trabalho", os telefonemas de amigos com cargos de chefia em veículos poderosos para saber da minha vida. Ah, asseguro que não se trata de mania de perseguição de paranóica de plantão.


Há muito deixei de ser uma metamorfose ambulante. Seria bem melhor se continuasse, com freqüência, a mudar de opinião. Mas, assumo publicamente o risco e aviso. Tenho a velha opinião formada sobre temas fundamentais para mover a engrenagem física e mental da sociedade. E não entendo, não aceito e acho os argumentos pífios e que servem somente aos donos do poder a desregulamentação da profissão de jornalista. Não é possível que uma juíza de São Paulo, com total desconhecimento do estreitamento do mercado e da invasão daqueles com títulos de precários, determine o fim da exigência do diploma.


A defesa do diploma, ao contrário do que muitos gostam de enaltecer para desviar e abafar a discussão inicial sobre o assunto, deveria ser tão eloqüente quanto às manifestações públicas pedindo melhor mais segurança, mais saúde, educação. Abraçar a causa da regulamentação da profissão do jornalista é dizer que desejamos uma sociedade mais igualitária, mais justa, mais homogênea. Por que almejamos e lutamos para que as empresas de comunicação contratem jornalistas com o respectivo curso superior concluído? Sem entrar no fator econômico e só no efeito da manchete é porque não desejamos uma sociedade bem informada.


Para isto, é necessário não retroceder. É urgente que os jornalistas gaúchos estejam unidos para lutar pela regulamentação profissional. A fim de barrar o crescente número de oportunistas que se valem da indecisão para ocupar as funções que deveriam ser exercidas pelos Jornalistas Com Diplomas. Para dar um deadline às vergonhosas irregularidades praticadas pelas empresas de comunicação, que se apóiam na possibilidade da desregulamentação (entendida pelos donos do poder como desmobilização) para pagar baixos salários, obrigar a exceder as horas contratadas e desrespeitar o jornalista.


Nós, Jornalistas Com Diplomas, não podemos aceitar o retrocesso, a desinformação e um futuro de notícias manipuladas e sem qualidade para os nossos filhos, netos e toda a prole. Eu tenho em casa uma cidadã em formação (quase 14 anos) e que abre o jornal, diariamente, com o dedo apontando as falhas, os erros e brava com a crescente ocorrência dos mesmos. Um dia destes, ela lascou a máxima: "mãe, eles pensam que escrevem para analfabetos, com tanto detalhamento e linguagem de bê-á-bá?", ao ler uma seção fixa que acompanha as principais notícias de um jornal gaúcho. Mais um motivo para lutar pelo diploma: a Gabriela não precisa conviver com tanto absurdo.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve agens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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