Ruy

Por José Antonio Vieira da Cunha

Qual é o maior nome da crônica esportiva do Rio Grande do Sul, e um dos maiores do Brasil? Não tem como hesitar: Ruy Carlos Ostermann é a resposta óbvia, e é uma ótima notícia saber que este jornalista, filósofo, professor e político começa enfim a receber uma biografia à altura. Garimpada por um jornalista e pesquisador com forte atuação em rádio, Carlos Guimarães, e uma jornalista que conhece Ruy como ninguém, sua filha Cristiane, não há dúvida de que o resultado merecerá nota 10.

Mas não será nada fácil concluir a tarefa. Mesmo que o personagem ajude bastante, por flutuar com a maior tranquilidade e competência entre a cultura popular e a erudita. Embora afastado dos microfones há uns bons anos, Ruy conserva uma legião de iradores em todo o Estado pela inteligência exuberante de seus comentários em rádio. Começou primeiro na Guaíba e depois na Gaúcha, para onde foi com a missão de revolucionar o radiojornalismo, o que conseguiu com louvor. A Rádio Gaúcha achou ali no início dos anos 80 um caminho sem retorno, que faz dela há anos ser líder em audiência graças a sua fórmula que privilegia a informação.

O programa Sala de Redação teve com ele um dos períodos mais criativos e atraentes, ainda hoje com milhares de ouvintes saudosos. E em outro, o Gaúcha Entrevista, o Professor mostrou uma capacidade invejável de entrevistar e cativar a iração do entrevistado e da plateia.

Tenho certeza de que muito desta habilidade para exercer o jornalismo Ruy aprimorou durante sua agem marcante pela Folha da Manhã nos melhores momentos do diário, entre 1972 e 1975, quando foi diretor de Esportes e em seguida diretor de Redação. Sabia ouvir e era mestre na arte de contemporizar; as divergências entre os jornalistas ou a costura de estratégias para o jornal ele tratava com a maior habilidade em uma sacada da redação. Sim, o espaço ocupado pela Folha da Manhã no austero prédio da Companhia Jornalística Caldas Júnior era exíguo, e seu diretor, que dividia uma mesa de trabalho ao lado de diagramadores, repórteres e editores, fazia as reuniões mais reservadas em uma sacada com frente para a Rua 7 de Setembro.

Vem daí uma longa e agradável convivência com Ruy e sua família. A esposa Nilse, falecida no início do ano ado, aniversariava no mesmo 20 de abril que eu, e não foram poucos os momentos em que comemoramos juntos. Em muitas destas vezes, Ruy era o churrasqueiro de plantão, com muita propriedade.

Patrono da Feira do Livro, jornalista, deputado, escritor, secretário de Estado, dirigente sindical, palestrante - há muitas facetas a serem ressaltadas. Por isso mesmo, é fácil afirmar que os biógrafos de Ruy estão com um trabalho ao mesmo tempo árduo e recompensador. Devem estar se deliciando neste momento com ouvintes privilegiados das histórias que o Professor está resgatando para a posteridade.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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