Ruído na Internet

Noticiário desvirtuado chega à imprensa a respeito de projeto do senador Eduardo Azeredo, acusando-o de pretenso controle e conseqüente censura na Internet. É difícil …

Noticiário desvirtuado chega à imprensa a respeito de projeto do senador Eduardo Azeredo, acusando-o de pretenso controle e conseqüente censura na Internet.
É difícil perceber o objetivo da distorção. Terá a malta de vigaristas e predadores, que infesta impunemente a rede mundial, contaminado também os computadores dos jornais? Ou os nossos indefectíveis rábulas de porta de cadeia já estão a postos para preservar o faturamento?


O projeto do senador Azeredo simplesmente atualiza o Código Penal, ao definir 12 crimes eletrônicos e a respectiva pena. São cometidos através das chamadas pragas - os vírus, vermes e scamers - para furtar dinheiro de contas bancárias, falsificar cartões de crédito e chantagear empresas.


Identificar esses criminosos não é novidade. Já se faz isso com a comunicação telefônica, mediante autorização judicial.


Não se compreende, pois, a reação descabida. Por ser recente, o crime eletrônico ainda não foi definido na maior parte dos países. Sua omissão em nossa legislação penal é mais uma porta escancarada para a impunidade aparentemente inextirpável que nos dá lugar de destaque na corrupção mundial.


O senador Eduardo Azeredo não está sozinho em seu ponto de vista. Há poucos dias, sem que o mundo tenha desabado, o britânico Tim Berners-Lee, criador da Internet, alertou para os riscos de a rede ser corrompida por golpistas, o que comprometeria a sua utilidade.


Tanto barulho por nada, aqui no Brasil, faz a gente desconfiar.


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Surpreendente saber pela imprensa que o ministro Waldir Pires declarou que nada sabia sobre as deficiências do Serviço de Proteção ao Vôo e que ninguém o informou de nada. Cabe, então, perguntar: o que o ministro Waldir Pires tem feito todo esse tempo em que dirige a Pasta da Defesa?


Quando ocorreu a tragédia do Boeing da Gol, o ministro Waldir Pires era todo certezas: a responsabilidade pelo acidente era dos pilotos do Legacy, que não haviam obedecido ao plano de vôo, as denúncias do jornalista americano Joe Sharkey sobre a precariedade da proteção ao vôo no Brasil eram levianas, a decisão dos controladores de vôo, de voltar ao procedimento-padrão, pura crise emocional.


Agora, a caixa-preta do Legacy revela que a tragédia do Boeing da Gol se deve a erro do Serviço de Proteção ao Vôo, ao autorizar o jato executivo a voar a 37 mil pés até Manaus e não só até Brasília, como previa o plano de vôo. Os controladores de vôo decidiram não mais "ajeitar" as coisas para não arriscar a vida das pessoas. A página eletrônica do Siafi (Sistema Informatizado de Acompanhamento de Gastos Federais) mostra que, apesar de o Fundo Aeronáutico acumular mais de 1 bilhão e 900 mil reais, falta dinheiro para a proteção ao vôo. O que essa dinheirama está fazendo parada por lá é um dos muitos mistérios guardados por outras caixas-pretas que não são de avião.


O Congresso, tão pródigo em Is e outras farândolas demagógicas, ao menos desta vez podia tomar a sério o seu papel, para investigar e apurar responsabilidades e punir os verdadeiros culpados pelo descalabro. Está na hora de alguém pagar pelo que faz de errado neste país.

Autor

Jayme Copstein é jornalista, com atividade em jornal e rádio desde 1943,com agens pelos principais veículos de Porto Alegre. Trabalhou 22 anos no Grupo RBS como apresentador de programas e comentarista de opinião da Rádio Gaúcha, e atualmente é colunista do jornal O Sul e apresentador do programa 'Paredão', na Rádio Pampa. Detentor de vários prêmios, entre eles, Medalha de Prata (2º lugar) no Festival Internacional do Rádio de Nova York (1995), em 1997 publicou "Notas Curiosas da Espécie Humana" (AGE). Seu livro mais recente é "A Ópera dos vivos", editado em janeiro de 2008.

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