Retalhos do mês de agosto
Agosto, 10, é a data de nascimento do primeiro amor da minha vida, amor prá valer, aquela namorada que depois Carlinhos Lyra e Vinicius …
Agosto, 10, é a data de nascimento do primeiro amor da minha vida, amor prá valer, aquela namorada que depois Carlinhos Lyra e Vinicius explicariam muito bem explicado:
"? Porém, se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo em meu caminho
E talvez o meu caminho seja triste para você?"
Meu caminho, ainda que eu não o fizesse triste, certamente não teria sido feliz para essa namorada que - espero - foi ser alegre do jeito dela. Quando nos fomos - um para o outro - agosto ficou sendo apenas o mês do aniversário do meu pai, e no dia 8, a gente saboreava um creme de ameixa, gulodice amada do velho, preparada com muito carinho e marca registrada das comemorações familiares.
2 de Agosto era o nome do grêmio do nosso ginásio, data da fundação no século XIX, do Instituto de Educação Caetano de Campos, na Praça da República, em São Paulo. Nesse grêmio eu fui, ano a ano, Diretor de Imprensa e Orador, Vice-Presidente e Presidente. Todos os dias 2, ou no dia útil mais próximo, durante o ano letivo, eu organizava um show, com os colegas estudantes, onde era o redator e apresentador: números musicais, esquetes e brincadeiras eram apresentados, no auditório da escola - um belíssimo teatro - em duas sessões: uma pela manhã, outra à tarde. Ainda me lembro que pedi à colega Yolanda Bulcão que riscasse Rakmaninov de suas apresentações no piano, pois eu sempre me atrapalhava quando ia pronunciar o nome do compositor russo.
Fui crescendo, todo ano tinha um agosto e aram alguns nos quais o dia 25, Dia do Soldado, eram feriados nacionais.
Em 24 de agosto de 1954, logo cedo, em São Paulo, fui acordado pelo meu pai: - "Getúlio deu um tiro no coração". Aquele tiro adiou, por 10 anos, um golpe de direita que estava em andamento, golpe a pretexto de que asseclas de Getúlio, sem o conhecimento do mesmo, tentaram ass o líder direitista, o "Corvo", Carlos Lacerda. A síndrome brasileira da má pontaria matou o major Rubem Vaz e o resto da história seria um golpe de direita, não fora o gesto radical de Vargas. A direita ainda se assanhou, tentou dar outro golpe, mas o General Lott, honra do Exército, deu o contra-golpe e empossou Juscelino Kubitschek , que havia sido eleito presidente da República.
Jânio Quadros, sucessor de JK, até hoje não se sabe se de porre - lúcido jamais, pois mesmo sem beber nunca foi lúcido - em 25 de agosto de 1961, em vez de ir ao Rio Grande, onde era aguardado, renunciou à Presidência. Foi tentado um golpe, agora com três militares à frente, que aram à história como "Os três patetas" por tentar impedir a posse do vice, João Goulart. Brizola, então governador do Rio Grande, levantou o Estado, movimento que ou a ser conhecido como Legalidade e os gaúchos abortaram a tentativa de golpe. Jango aceitou a emenda parlamentarista, conseguiu repor o presidencialismo através de plebiscito, mas não conseguiu, em 1964, escapar do golpe que Getúlio conseguira com a morte e Brizola abortara na raça e no grito.
O discurso de posse de Castelo Branco como o primeiro ditador, hoje é peça de humor e seu autor - o "Pinóquio do Ceará" - o que não tinha de pescoço ganhou num nariz emblemático, como emblemática foi a data de um golpe prenhe de mentiras - 1º de abril.
Agosto deixou-me poucas datas alegres e só me lembro de uma bem festiva. O ditador que demitiu Vinicius do Itamaraty, chamando-o de vagabundo, um deslumbrado que em dezembro de 1968 assinou o criminoso Ato Institucional nº 5, teve um derrame e, em 31 de agosto de 1969, foi mandado para casa. Arthur da Costa e Silva, desvestido da farda que nunca deveria ter vestido, vestiu com um pijama a sua boçalidade e a sua irresponsabilidade criminosa.
Estamos iniciando o quinto mês de agosto deste século XXI e trago no coração, além da curiosidade sobre o destino daquela namorada, muitas boas memórias do meu pai e das famílias que eu já tive.
Para nós todos um feliz agosto e um lembrete aos pessimistas: este é o último mês antes da Primavera.
Inté.