Rescaldos das eleições
Vida leva euE deixa a vida me levar (Zeca do Pagodinho)Por ser um momento onde a sociedade se manifesta como um todo, as eleições …
Vida leva eu
E deixa a vida me levar
(Zeca do Pagodinho)
Por ser um momento onde a sociedade se manifesta como um todo, as eleições deixam evidências sobre grupos, interesses e pessoas.
A quantidade de e-mails e spans que recebi das mais diversas fontes vai desde o apaixonado exercício da cidadania ao desespero de uma mãe dizendo que não votaria em Gabeira por causa de sua filha ser uma drogada (sic). No meio do entrevero, manifestações sutis de fisiologismo são facilmente detectáveis, assim como as falsas posturas imparciais no Rio, de O Globo e do Jornal do Brasil, um com Gabeira, outro com Paes.
Quando Ministra do Turismo, acossada pelo problema dos aeroportos, ela proferiu um conselho mortal para os usuários: "Relaxa e goza". Face à acachapante derrota mandou-se para Paris onde deve relaxar. Se vai gozar não sei, não me meto na vida íntima das pessoas.
A colunista Hildegard Angel deu-me oportunidade para um desabafo muito antigo e gerou uma carta para o Jornal do Brasil, mesmo sabendo de antemão que não seria publicada: "Em sua coluna de hoje (28.10) Hildegard Angel congratulou-se pelo fato de haver apoiado Paes, "única voz no colunismo?" Os menos jovens lembram-se que na ditadura, enquanto seu irmão foi assassinado pelas forças de repressão e sua mãe denunciava - nos Estados Unidos - o Brasil como um Estado assassino, a colunista Hildegard era uma voz que puxava o saco dos donos do poder conspurcado".
Stuart Angel Jones - o irmão da reconhecida deslumbrada -, assassinado em junho de 1971, após muitas sessões de tortura, foi amarrado à traseira de um jipe da Aeronáutica e arrastado pelo pátio com a boca colada ao cano de escape do veículo, morrendo por asfixia e intoxicado por monóxido de carbono. Os assassinos? Oficiais das Forças Armadas que assam e sumiram com o cadáver.
Zuzu Angel, a mãe de ambos, morreu em abril de 1976 num acidente de automóvel não esclarecido e que leva a suspeita de assassinato cometido por oficiais do Exército.
Como mandei cópias da carta para amigos, recebi um e-mail do escritor Ayrton Luiz Gonçalves cujo início é: "Olha, Mário. essa mulher é uma carreirista. Atua como cortiça, está sempre flutuando na superfície. Ganhasse o Gabeira, ela teria uma frase, umas palavras, para justificar e justificar-se".
Ayrton acrescenta que quando vice-reitor da Universidade Gama Filho, na década de
Certa noite, a colunista entrou no Antonio?s, e o Tarso de Castro (um dos fundadores do Pasquim) levantou-se de uma mesa e logo no início da esculhambação ela saiu rápido, nem se sentou.
No Rio, enquanto Gabeira se desculpava junto a uma vereadora por ter sido pilhado ao dizê-la "analfabeta política", Paes escrevia cartas de desculpas para Lula e Sra., por incluir o presidente e filho no rol dos ladrões. Depois, o governador Cabral, com Paes a tiracolo, levou-o a Brasília para beijar a mão do acusado de meter a mão onde não devia. Como já vaticinou o ator Paulo Betti defendendo Lula no ado, "quem faz política tem que por a mão na merda". No presente, Paulo Betti é a voz dos comerciais da Petrobras. Por não pôr a mão na merda e, apesar do mundo estar na maior merda, eu, descaradamente, vivo feliz.
Paes, defendendo a validade de sua candidatura, afirmou que se preparou a vida inteira para ser prefeito, enquanto Gabeira, aproveitando o mote, disse: "E eu me preparei a vida inteira para a vida inteira".
Saí desta eleição no Rio com a impressão de ser um despreparado. Não me preparei para ser prefeito e nem para viver. A vida fez de mim o que sou. A vida me levou.
Inté.