Relax à mesa
Depois de rever e irar a revista P&V, ansiosos por seu breve retorno, Fu Lana e seus amigos foram jantar. A sugestão foi de …
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Depois de rever e irar a revista P&V, ansiosos por seu breve retorno, Fu Lana e seus amigos foram jantar. A sugestão foi de Caco Silveira: um lugar novo, vegetariano, chique, ível (oba!), podre de maravilhoso.
Ser chique, classudo e cheio de charme são qualidades que Fu Lana rejeitaria logo de início, pois teme desaparecer em um lugar desses. Ela é do tipo que nem olha revistas de decoração, moda e beleza porque morre de inveja e, ao fechar as páginas da publicação, sempre fica deprimida defronte o ambiente onde geralmente circula, aquilo a que chamamos vida real.
Mas o Caco era gente fina. No bom sentido. Um cara inteligente, descolado. Além de ter uns olhos lindos e um sorriso amplo, tinha sido (qualidade máxima) expulso do Julinho, na época em que Fu Lana era foca no Diário de Notícias (nooooossa, tempo do êpa, seja já o que isso queira dizer). Logo, a sugestão foi imediatamente acatada.
No Especiarias, todos foram surpreendidos. Como pode ser singelo um ambiente sofisticado? Com uns cantinhos que parecem nossa casa, por assim dizer, isto é, uma casa aconchegante e inteligente. Aliás, como pode ser inteligente uma casa? Os arquitetos saberiam explicar. Assim como um ator pode representar um sapato no palco. São impulsões internas que dão ânima (vida, alma) aos objetos.
Nas paredes, pinturas de Dimas, e alguém soprou no ouvido de Fu Lana, delicadamente: estão à venda?
Em lugares públicos, todo o detalhe é importante no agradar das pessoas exigentes e cheias de manias. No cardápio, símbolos gráficos foram adicionados aos pratos: sem glúten, sem laticínios, vegetariano sem qualquer produto de origem animal ou suavemente apimentado. Aqui, nesta página, está a capa belezinha do cardápio. Fu Lana até pediu, discretamente, para levar um para casa. Evidentemente, não levou.
Teve uma época que especiarias eram presenteadas aos reis e nobres. Fu Lana sentia-se uma diva. aram por ela sanduíches de pão indiano - os chapatis -, com diversos recheios, além de acarajés e pizzas. E pensar que quando não tem carne em casa, a cozinheira reclama: não tem NADA para cozinhar.
Fu Lana decidiu que vai voltar lá. Uma vez será para aproveitar o sótão. Um lugar de madeira, paredes inclinadas, janelinhas pequenas. Um split simulando o frescor da noite. Quadros negros, de escrever com giz, ficam disponíveis para uso. Alguns objetos são antigos, como frigidaires e fornos elétricos, dando um ar de fora do tempo. As mesas são de madeira rústica e tudo tem um toque de palhinha, florzinhas do campo, sem excessos. A iluminação é discreta. Bem legal seria reunir os amigos ali.
Outra vez no Especiarias, ela iria curtir a varanda em frente, com sofás e tendas, e um trompetista dando aquele clima. E, secretamente, experimentará a parte afrodisíaca do cardápio, talvez um Mushroom in Love.
Viajava na maionese (ou no molho de ricota?), bebericando um espumante, fazendo o tipo: eu mereço.
Em seu entorno, uma gurizada diferente. Praticantes de ioga e nada bichos-grilo (nada contra os companheiros), provavam que não precisa ser ortodoxo para curtir os vegetais. Como aquela personagem ilária do filme Nothing Hill, que só comia vegetais que caíssem naturalmente da árvore e que não concordava com o assassinato, por exemplo, das pobres cenourinhas. Para ela, provavelmente, os tubérculos deveriam saltar da terra, espontaneamente. E foi divertido ouvir a opinião de carnívoros convictos sobre a paella de cogumelos: mas, pelo menos, eles são alucinógenos?
Quando chega dezembro, o único pensamento saudável é pensar em relaxar. E o melhor de tudo isso: os preços não têm sal. E a gente paga de sangue doce.