Reformas
Verdade ou mentira bem contada, diz-se que o maestro Tom Jobim compôs Águas de Março inspirado por uma reforma que estava acontecendo na sua …
Verdade ou mentira bem contada, diz-se que o maestro Tom Jobim compôs Águas de Março inspirado por uma reforma que estava acontecendo na sua casa. Seria a única reforma com abrangência nacional que teria dado certo no Brasil.
A ortográfica recente parece só funcionar para quem vende livros de ortografia e dicionários.
A previdenciária, feita aos pedaços, não teve profundidade suficiente para acabar com os indecentes privilégios.
A panaceia da vez é a reforma política: fala-se no voto em lista fechada, voto distrital e - olha a gandaia aí gente - financiamento público de campanha.
Comecemos pelo último, lembrando a dieta do Jô Soares. O talentoso gordo declarou que em todas as dietas nas quais se envolveu apenas acrescentou, a tudo o que comia regularmente, os itens da dieta. Entre as refeições, devorava queijos magros, carne de frango grelhada e iogurte desnatado.
A verba pública da campanha será o queijo cottage dos nossos políticos: uma verbinha a mais para saciar seus apetites incomensuráveis.
Com relação à lista fechada, outra complicação no horizonte. Caciques partidários, entre eles muitos daqueles atolados em escândalos até os gorgomilos, arão a incluir na sua lista outras figuras impolutas, tirando a liberdade de escolha do eleitor e impedindo a oxigenação da política.
É claro que a lista fechada fortaleceria os partidos, mas interessa à sociedade fortalecer estas estruturas no estágio em que se encontram?
Finalmente, cabe comentar o voto distrital misto, que parece uma proposta interessante. A aproximação do eleitor do representante de seu distrito eleitoral pode fortalecer a democracia e, sendo misto, eliminaria a possibilidade da política de arrabalde.
No entanto, o voto distrital parece não ter boas chances de ser aprovado. Considerando que há um grande número de parlamentares que se elegem com votos pulverizados em um grande número de distritos, a mudança não deve ar.
Já que estamos falando de propostas interessantes, mas inviáveis, cabe lembrar um principio básico da democracia representativa segundo o qual o voto dos seus membros tem o mesmo valor ("one man, one vote"), o que não ocorre no Brasil. Quem colocaria o guizo no rabo do gato, explicaria para os deputados dos pequenos estados do Norte e Nordeste que seus estados perderiam cadeiras na Câmara dos Deputados?
Além disso, não parece suspeita a velocidade do agendamento do tema por alguns políticos?
É pau, é pedra, é o fim do caminho?
Perguntando
Há cerca de um mês o David Coimbra propôs o fim dos estados, ficando apenas os municípios e o país. O que parecia, inicialmente, insólito pode ter suas vantagens. Não seria bom se ninguém pudesse dizer que o deputado Sérgio Moraes é do Rio Grande do Sul?