Recordes

Festejemos, irmãos. Em Cachoeira do Sul acabam de descobrir um fóssil de 228 milhões de anos, o que, segundo a imprensa noticiou, pode mudar …

Festejemos, irmãos. Em Cachoeira do Sul acabam de descobrir um fóssil de 228 milhões de anos, o que, segundo a imprensa noticiou, pode mudar a história dos dinossauros na face da Terra.

Pranteemos, irmãos. O Congresso brasileiro acaba de sacramentar mais uma indecência, dobrando sua remuneração. Daqui a 228 milhões de anos, os arqueólogos, ao remexerem em ossadas, dirão que jamais houve na história do mundo políticos tão imorais quanto os do Brasil, e por isso jamais mudou o destino deste país.


Festejemos, irmãos. Os arqueólogos só precisaram de meia dúzia de fragmentos de ossos para concluir que o dinossauro descoberto era um dos elos perdidos entre formas mais primitivas e formas mais evoluídas da espécie.


Pranteemos, irmãos. A absolvição de praticamente todos os mensaleiros e sanguessugas é prova demasiada de que qualquer elo que acaso houvesse entre o "politicus brasiliensis" e o mínimo de decência que se exige de qualquer ser vivo, perdeu-se irrecuperavelmente, se é que existiu algum dia.


Festejemos, irmãos. Se a importância desta descoberta em Cachoeira do Sul for confirmada, o Brasil vai para o Livro dos Recordes do Guiness como detentor do fóssil mais antigo de toda a história da humanidade.


Pranteemos, irmãos. Não se precisa de mais comprovação. Os números são eloqüentes: ando a ganhar quase 30 vezes o que percebe um congressista norte-americano e mais de 30 vezes o que ganha um parlamentar inglês, em um país onde a renda média da população é 15 vezes menor que a dos habitantes dos Estádios Unidos ou da Inglaterra, já estamos no Guinness. Trata-se do Congresso mais abjeto da história do planeta.


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Nada de novo sob o Sol, diz o Eclesiastes. A imprensa deu destaque à espirituosa declaração do presidente Lula Inácio Lula da Silva, renegando sua militância à esquerda.


É plágio mal-feito de um chiste de Bismarck, o chanceler alemão do século 19, que dizia com menos palavras e mais contundência: quem não foi socialista aos 18 anos ou continua sendo aos 60, é um tolo.


Mas comparar Lula a Bismarck é uma demasia. Mais apropriado seria falar-se em Orestes Quércia, que confessadamente faliu o Banespa para reeleger seu sucessor, Luiz Fleury, no governo de São Paulo. Naquele tempo não havia reeleição, caso contrário os paulistas teriam Quércia em dose dupla.


Se Lula bagunçou a economia para se reeleger é uma interrogação ainda sem resposta. Quebrar o Brasil ele não quebrou porque é tarefa impossível, por mais que o roubem tão desbragadamente os seus políticos. Mas os primeiros sinais de alarma, que algo começa a se deteriorar, estão em pesquisa da Federação do Comércio de São Paulo, mostrando elevada taxa 76% de endividamento entre trabalhadores que percebem de um e três salários mínimos. Sessenta por cento deles estão com as contas em atraso. Nas faixas salariais superiores, o endividamento cai, mas a média geral é de 43%. Ou seja, quase a metade da população assalariada enfrenta dívidas, como o resultado do crédito fácil, com fins nitidamente eleitoreiros, propagado quase como aumento de salário, pois não vinha acompanhado da advertência que o dinheiro teria de ser devolvido mais adiante.


A frase espirituosa pode ser de Bismarck. O espírito da coisa, entretanto, é de Quércia.

Autor

Jayme Copstein é jornalista, com atividade em jornal e rádio desde 1943,com agens pelos principais veículos de Porto Alegre. Trabalhou 22 anos no Grupo RBS como apresentador de programas e comentarista de opinião da Rádio Gaúcha, e atualmente é colunista do jornal O Sul e apresentador do programa 'Paredão', na Rádio Pampa. Detentor de vários prêmios, entre eles, Medalha de Prata (2º lugar) no Festival Internacional do Rádio de Nova York (1995), em 1997 publicou "Notas Curiosas da Espécie Humana" (AGE). Seu livro mais recente é "A Ópera dos vivos", editado em janeiro de 2008.

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