Quem tem um amigo tem tudo

Por Márcia Martins

"Quem tem um amigo tem tudo. Se o poço devorar, ele busca no fundo. É tão dez que junto todo stress é miúdo, é um ponto para escorar quando foi absurdo. Pronto para o que vier mesmo a qualquer segundo. É um ombro para chorar depois do fim do mundo." A música do Emicida, que abre a coluna, resume da forma mais singela e cotidiana a importância de se cultivar as amizades e achei justo que eu me apropriasse de parte dela nesta data em que se comemora o Dia do Amigo. Por que não existe figura mais essencial na construção e consolidação da nossa vida do que os (as) amigos (as).

É aquele ser que sabe, apenas ao ouvir o tom da voz do amigo ao telefone, que tem alguma encrenca perturbando a pessoa. É aquele que se lembra sempre de chamar para um encontro, um café, um cinema ou uma simples caminhada pelo bairro. É aquele que nunca inventa uma desculpa para fugir do compromisso já agendado ou combinado de última hora. É aquele que, faça chuva ou faça sol, se dispõe a ajudar, mover o mundo e encurtar as distâncias para levar um afago, um conselho, um abraço apertado. É aquele que diz o que é preciso, mesmo que sejam palavras duras, simplesmente porque sabe que o momento exige.

Ao longo desta minha vida não tão curta, mas proveitosa, cultivei bons amigos. Homens e mulheres. De todas as idades e profissões. De todos os signos. De vários lugares por onde ei. Do colégio, da faculdade, das redações, das assessorias, das lutas sindicais, feministas, políticas e do imortal tricolor. São pessoas com quem posso contar e que me conhecem exatamente como eu sou. Não consigo disfarçar. Nem a dor, nem a felicidade. Todas as minhas emoções são transparências para os amigos.

E pelos enredos da vida, já perdi alguns amigos, ausências que me doem até hoje, todos os dias. Mas explico melhor: não porque tenha brigado com tais amigos, porque os verdadeiros amigos jamais se separam, e sim porque já não estão mais aqui neste plano. A mamis Mirthô, minha primeira e leal amiga, que já partiu (e volta e meia aparece nos meus sonhos para me acalentar). Mano Dedé, Dédi ou Luli, meu primeiro amigo homem e que me ensinou tantas coisas. A Bela, Belinha, Beloca, que sempre estava disposta a me ouvir. E a Isabel Torres, amiga fiel de militância.

Como a vida é generosa, me fez desenvolver amizades especiais. Na família, cresceu um carinho imenso pelo mano Nando, que além de se aproximar mais de mim com a partida do Dedé, me deu uma das minhas melhores amigas, a cunhada Flávia, que é minha mana de adoção. A filha Gabriela, com seu jeito especial de amar, nem sempre entendido, mas que é minha amiga, e de quebra, introduziu na minha vida a sua companheira Laura, nora querida, que só pelo fato de fazer minha garota feliz vai ocupando lugar quentinho no meu coração.

No jornalismo, conheci o Jorge Correa, amigo desde a Redação do Jornal do Comércio, e que me acompanha em todas as jornadas profissionais e pessoais, para o que der e vier. Na militância sindical, encontrei o inestimável Milton Simas, parceiro de conversas e mesa de bar. E a tia Lili (Eliana), que quase foi minha inimiga na infância, e se tornou uma amiga do peito, daquelas que posso, sem dúvida, chamar de mana, de quem me aproximei na Redação de Zero Hora e aprofundamos o afeto nas Assessorias de Comunicação da istração Popular na Prefeitura.

E, nesta categoria indescritível de manas do coração, ganhei, lá em 1979, nos bancos da Famecos, as queridas Lessilda (Lessa) e Neneca (Silvana), a melhor prova de que amigo pode ficar um tempo sem se encontrar que o sentimento fraterno jamais se desmanchará. Ainda da faculdade, num reencontro jamais imaginado, lá por volta de 2007/2008, afivelei laços de amizade com a Carlota (Carla Seabra), Li (Liane Muller) e Marcília Meneghetti, que formam o imbatível Grupo das Mosqueteiras (torcedoras do Grêmio), do qual também participa a amigona Lessilda (já mencionada).

Então, muito obrigada amigos e amigas por tornarem a minha existência um roteiro tão caloroso, amoroso, cheio de parceria e cimentado no respeito e na compreensão. Valeu por vocês existirem!

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve agens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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