Quem é Hugo Chávez?
A revista Der Spiegel costuma fazer perfis de personagens famosos, como Al Gore, o derrotado candidato à presidência americana e hoje um ativista ecológico, …
A revista Der Spiegel costuma fazer perfis de personagens famosos, como Al Gore, o derrotado candidato à presidência americana e hoje um ativista ecológico, o rei da Jordânia, Abdullah Segundo, ou o Nobel Joseph Stiglitz. Esta foi a vez do polêmico Hugo Chávez, presidente da Venezuela (que transformou o nome para República Bolivariana da Venezuela), personagem controverso para seus vizinhos e que tenta exercer influência no mundo. Já propôs uma aliança com o Irã, por exemplo. A matéria da Spiegel intitula-se "Um Che Guevara com petróleo". O sonho de Chávez é diverso: quer unir toda a América Latina numa frente como a pretendida, e não concretizada, de Simon Bolívar, três séculos atrás.
Chávez não hesita em chamar Bush de "bêbado bobo". Der Spiegel: "Um pastor americano já pediu, em seu púlpito, e na televisão, que a CIA o matasse. A revista Newsweek descreveu uma plano da CIA com o mesmo objetivo". Mas Washington é dependente. Somente o Canadá, o México e a Arábia Saudita obtêm uma quantidade de petróleo um pouco maior do que a Venezuela. O país obtém 11% de suas importações do país de Chávez.(senadores americanos, nesta semana, advertiram Bush que a Venezuela já tem 1,5 milhão de reservistas, além do exército regular, segundo o Financial Times, e pode cortar este fornecimento). A Citgo, de propriedade venezuelana, com sua 14 mil postos, abastece os americanos.
CHEIRO DE POVO
No encerramento da XXX Cúpula do Mercosul, na última semana, Chávez, com Fidel Castro ao seu lado, reuniu 30 mil pessoas num estádio. O objetivo: oferecer a Fidel um "banho de povo". Os ouvintes de Chávez são camponeses, operários, desempregados, Mães da Praça de Mayo. Der Spiegel: "Em que país a TV é a grande arma? Durante sete a oito horas seguidas, aos domingos, os venezuelanos assistem Chávez falar, e também o Chávez benfeitor. Por exemplo, montou uma pequena fábrica de costura, com as máquinas tendo a figura de Bolivar coladas".
Veste-se com uma camisa aberta ao peito, uma boina vermelha, calças jeans desbotadas. "Sou igual a vocês", diz. Em 1992 tentou uma tentativa de golpe contra o presidente Carlos André Perez. Ficou três dias preso e, na saída, disse: "Por hora perdemos". Voltou , e esmaeceu-se o conceito de ditador.
RELAÇÕES CONFLITUADAS
Com seus vizinhos mantém relações ambivalentes. Comprou parte da dívida externa da Argentina, e quer construir um gasoduto, ando pela Amazônia, para abastecer o Brasil de gás barato. Tenta influenciar nas eleições de seus vizinhos, como no recente caso em que Alan Garcia, no Peru, venceu o ultra-esquerdista Ollanta Humala. Chávez considerou a derrota "um contratempo". Oferece energia barata a seus amigos (é o quinto produtor de petróleo do mundo).
Seus os aliados incondicionais são poucos: Cuba, Bolívia, uma Argentina hesitante. É procurado conter por Lula e Garcia. Mas quem controla Chávez e seu "cheiro de povo" em um momento delicado em que a América Latina tende para a centro-esquerda?
A maioria dos oponentes de Chávez são os ricos proprietários de negócios. Liderados por homens como Júlio Borges, 38, ex-político e ex-guerrilheiro, e um idoso editor, 74, Teodoro Petkoff. Fluente na linguagem do Banco Mundial, afirma que o padrão de vida da Venezuela somente pode ser radicalmente melhorado através da iniciativa privada.
O PISQUIATRA DE CHÁVEZ
Der Spiegel: "O psiquiatra dr. Edmundo Chirinos conversa uma vez por semana com Chávez quando ele está em Caracas". Diz Chirinos: "Chávez se identifica integralmente com Bolívar e com seus sonhos grandiosos. Não há uma estratégia ou simulação a este respeito. Ele é um homem que tem uma missão, e está disposto a morrer por sua causa". E o psiquiatra resume: "É um homem íntegro, que recusa a se acovardar". Mesmo assim, com uma sessão por semana com seu psiquiatra, Chávez tem outro interlocutor. Em seu escritório possui um busto de Simon Bolívar, com o qual mantém esotéricas conversações.
