Quem é esse cara?

Por José Antônio Moraes de Oliveira

É uma pergunta que surge sempre que indico o Padre Brown como um dos mais fascinantes personagens de estórias policiais. Fácil de entender a estranheza, pois seu criador, o inglês Gilbert Keith Chesterton é um dos escritores menos lidos e conhecidos de nosso tempo. No entanto, era uma figura irada por alguns dos grandes intelectuais do século XX, como George Bernard Shaw, H.G. Wells, Bertrand Russell e Clarence Darrow. Eles o tratavam com uma consideração e estima quase religiosa. Como G.B.Shaw, que afirmava: 

"O mundo não agradeceu a Chesterton como ele merecia".

***

Na verdade, é difícil, quase impossível definir a personalidade de Gilbert Keith Chesterton em colunas literárias. Nem mesmo suas biografias conseguiram descrever aquele que foi um dos maiores pensadores do século XX. 

Mas é igualmente verdadeiro que poucas pessoas nos dias de hoje se preocupam em saber o que aconteceu há cem anos atrás. Mesmo em seu tempo, Chesterton já se dizia desencantado com o nível intelectual dos ingleses:

"Aposto que hoje existem menos pessoas capazes de seguir um raciocínio lógico do que há 20 anos atrás".

Ele tinha coisas importantes para dizer, escrevia sobre quase todos os assuntos e sabia se expressar muitíssimo bem. Muitos consideram as deliciosas estórias do Padre Brown como uma introdução aos escritos chesternianos mais densos, em Filosofia, Teologia ou História. Esgrimindo paradoxos e provocações, ele se divertia desafiando dogmas teológicos e o pensamento correto daquele tempo. Duvidava da inteligência do homem comum e tinha consciência que seus livros não seriam compreendidos pela maioria dos leitores. O londrino G.K.Chesterton não freqüentou a universidade, mas uma escola de arte. Iniciou a carreira de escritor escrevendo para uma revista de Arte. 

A partir daí, se transforma em um escritor compulsivo. Escreveu mais de 100 livros, centenas de poemas, cinco peças de teatro, cinco romances e duzentos contos, incluindo a série do Padre Brown. Além disso, como jornalista, produziu cerca de 4000 colunas para o Illustrated London News, Daily News, além de textos para seu próprio jornal, o G.K.'s Weekly. É importante saber que a imensa quantidade de escritos nunca comprometeu sua qualidade literária. Mesmo atualmente, seus artigos continuam bons, divertidos, desafiadores e podem ser lidos com prazer. Ele se movia com igual desembaraço por História, Política, Economia, Filosofia e principalmente, por Teologia. Sempre com consistência, brilho, sagacidade, encanto e humildade.

***

Assim, o leitor que escolher não se aventurar pelo terreno da "Ortodoxia" ou saber "O Que Há de Errado com o Mundo", pode muito bem ficar com as peripécias de um certo rotundo padre-detetive do interior da Inglaterra, que não larga seu guarda-chuvas e usa teologia e lógica para resolver crimes e conseguir arrependimento dos criminosos.

***

Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem agens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

Comments