Que tudo se realize

Todo final de ano é sempre a mesma rotina. Listas de promessas que retornam depois porque não são cumpridas e boas intenções para superlotar …

Todo final de ano é sempre a mesma rotina. Listas de promessas que retornam depois porque não são cumpridas e boas intenções para superlotar mais o inferno. Compra de última hora de calcinha nova, porque é sorte certa para a usuária no ano que se inicia. Saber as cores dos orixás que regem o novo período e vestir-se conforme as entidades. E tem os mais devotados que apelam até para rituais de limpeza que é para despejar no ralo as coisas ruins que aconteceram. Sem falar nas famosas previsões sobre o futuro, as retrospectivas dos melhores momentos no esporte, na política, no Brasil e no mundo.


O ritual para turbinar a memória sobre os acontecimentos do ano que se despede e as crenças para receber bem o que vai chegar, se fossem cumpridas à regra, exigiriam mais 365 dias para executá-las. Com a desvantagem de saída que é perder um ano inteiro só em preparativos. E , dependendo da idade, um dia faz muita diferença. O melhor é executar pequenos ritos que não prejudiquem o seu cotidiano, não resultem em gastos excessivos em mercados públicos atrás de especiarias exóticas e nem violentem as suas crenças mais arraigadas com atos mais pesados. Neste caso, o menos é mais!


Mas, como não custa nada apostar nas dicas mais conhecidas, é bom estar atento quando o relógio bater a meia-noite ou quando toda a família, alguns visivelmente já animados pela bebida, começa a cantar a música tradicional. No primeiro acorde desafinado ou não do "Adeus Ano Velho? que tudo se realize", se estiver desimpedido, fique perto de alguém do sexo oposto. Dizem que, neste caso, a pessoa à procura terá sorte imediata, no quesito relacionamento, se sua primeira saudação no Ano Novo for dirigida ao sexo inverso. Mas antes de tudo, disfarçadamente vá até o banheiro para colocar a calcinha nova.


Não é o momento de reclamar do marido, da esposa, dos filhos, da sogra, do genro, dos irmãos, dos vizinhos, dos cachorros e daquele chefe conversador que prometeu o aumento salarial e nunca deu. Deixe qualquer mágoa atravessada para um acerto posterior. Marque na agenda de 2009 nova que você ganhou de Natal, nos primeiros dias de janeiro, um horário para as DRs acima. O resto é muita festa e comemoração porque sobrevivemos!


Só isso já vale a comemoração.  E por que não fazer três pedidos bem difíceis ou um só quase impossível, com fé, na hora em que ouvir o barulho dos foguetes saudando o novo ano? Herdei do meu irmão Dedé/Dédi/Luli uma camiseta muito bem bolada da Paim, agência em que ele trabalhava nos últimos anos de sua vida, com 10 maneiras criativas de entrar o Ano Novo. Escolho as que mais gosto e divido com meus leitores. "Entre com o pé direito; pule sete ondas, claro, desde que você não esteja no Hawaii; coma lentilha, traz dinheiro. O problema é rachar com todo mundo que também come".


A mais instigante aconselha a não acreditar tanto em mandingas. Se desse certo, o campeonato baiano acabava sempre empatado. No lugar destas simpatias, reveja sua atitude na vida que, com certeza, 2009 será um período bem mais generoso. E, na medida do possível, não peça muito. Só mesmo o que você tem certeza absoluta merecer. Eu quero saúde, dinheiro suficiente, muita paz, harmonia, equilíbrio emocional e que os 365 dias se multipliquem quantos anos eu resistir para viver, com amor crescente, ao lado da minha filha Gabriela Martins Trezzi. Ah, continuar escrevendo para vocês!

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve agens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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