Pura coincidência

Semana ada, em memória à saída de cena de Maneco Muller, que inaugurou a coluna social moderna como Jacinto de Thormes, o personagem de …

Semana ada, em memória à saída de cena de Maneco Muller, que inaugurou a coluna social moderna como Jacinto de Thormes, o personagem de Eça de Queiroz em As Cidades e as Serras, terminei minha crônica com uma promessa do tipo "Depois eu conto", que foi o bordão do colunista.


Hoje, eu conto e reproduzo pequeno trecho do atual best-seller Quase Tudo, de Danuza Leão:


"Eu tinha uma amiga que era apaixonada por um senador cassado; o namoro ia e vinha, ele desaparecendo, ela procurando, essas coisas. Um dia, ela me ligou e propôs irmos comer uma feijoada no Sereia do Leme, aonde ele costumava ir aos sábados. Fomos, e não deu outra: lá estava ele com um grupo de amigos. Claro que nos incorporamos ao grupo, e pelas oito da noite ela me disse: "Nos chame para tomar um drinque em sua casa antes que ele suma", coisa que fiz imediatamente. Fomos os três; tirei o gelo, abri uma garrafa de uísque e disse que ia sair, que eles ficassem à vontade e, quando fossem embora, batessem a porta. Cheguei de madrugada e fui dormir. Ao acordar, na manhã seguinte, fui à cozinha, e qual não foi minha surpresa quando vi os dois tomando sol na varanda, ela de calcinha e sutiã, ele de cuecas, uma cerveja na mão. Eles haviam aberto a porta do quarto de um de meus filhos, que tinha ido ar o fim de semana fora, felizmente, e dormiram, na paz de Deus. A história fica mais engraçada quando se sabe que anos depois o cavalheiro em questão foi eleito governador do estado e eu não digo o nome dele nem sob tortura".


Como já escrevi, deu coceira no antigo repórter e comecei a buscar, na memória, quem poderia ser o senador cassado, já que, quanto à parceira do então futuro governador, Danuza protegeu com a simples referência de "amiga". Na Internet, encontrei esse currículo atribuído ao Dicionário Histórico-biográfico Brasileiro, 2ª edição, o qual republico, parcialmente:


"Marcelo Nunes de Alencar (1925-?.) nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Advogado, foi eleito em 1966 suplente do senador Mário Martins pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), substituindo-o entre setembro e dezembro de 1967.


Atuou como intermediário entre estudantes e o governo durante o movimento estudantil. Em 1969, teve seus direitos políticos suspensos por dez anos e seu mandato cassado com base no Ato Institucional nº 5. (?) Foi eleito governador do estado no pleito de 1994."


Confesso que minha pesquisa não terminou nessa coincidência, mas confesso, também, que memória e documentos não conseguiram juntar o relato de Danuza com outras personalidades.


Confesso, ainda e também, que nem sob tortura, igual à Danuza, vou insinuar que essa história  faz parte do currículo do ex-senador cassado e ex-governador do Rio de Janeiro.


Claro que é coincidência.


Inté.

Autor
Mario de Almeida é jornalista, publicitário e escritor.

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