Por favor, uma mágica para antecipar o fim do inverno

Por Márcia Martins

Num tempo nem tão distante assim, confesso que já fui uma iradora e uma defensora do inverno. Das imensas e fraternas possibilidades que a estação fria me apresentava. Como uma sessão de cinema de um bom filme seguido de um café com as amigas no shopping. De saborear uma fumegante sopa de capeletti com tempero verde salpicado por cima na companhia da filha Gabriela, quando ela morava comigo. De bebericar uma taça de cabernet sauvignon. De caminhar pelas ruas ensolaradas da cidade. De desfilar enrolada em echarpes e pashminas. De sair maquiada sem ficar com o suor escorrendo.

Não sei se a idade um pouco mais avançada (não digo velhice porque ainda não me considero neste estágio). A ausência da filha para elogiar minhas sopas. A pandemia que engessou muitos encontros e eios. A necessidade diária de levar o cusco Quincas Fernando para o cachorródromo com um frio danado. Ou, quem sabe, uma maior percepção do aumento considerável de pessoas sem teto, agasalhos e comida vagando pelas noites geladas. E, mudei de opinião. Não gosto mais do "senhor" inverno.

Eu ando à caça de uma mágica urgente para antecipar o fim da estação fria. Não aguento mais, mesmo super agasalhada e entrouxada de roupa, reclamar do frio, tremer ao sair do banho, dormir soterrada de cobertores e ver as paredes do apartamento vertendo água. Sim, sei que sou uma privilegiada por ter roupas adequadas, uma humilde residência com chuveiro quente, edredons para aquecer a cama e outros benefícios que o povo na rua necessita tanto, não só no inverno, mas como itens essenciais de dignidade humana.

Por isso, por favor, se alguém conhece alguma mandinga para mandar logo esse frio embora, faça contato imediato. Ah, fala sério. O inverno nem começou oficialmente ainda. No Hemisfério Sul ele só tem seu início previsto para o dia 21 de junho, uma terça-feira, às 06h14min, e só se encerra lá no dia 22 de setembro. Mas então como ar desde já esses dias e noites de temperaturas baixas. Só mesmo hibernando. Aliás, a palavra inverno tem origem no latim "hibernu", que significa exatamente hibernar.

Ando pensando em fazer como algumas espécies de animais que realmente hibernam no inverno e dormir um longo período. Ou simplesmente ter um bom estoque de alimentos e vinhos (que eu mereço) para não precisar sair de casa. Para ar trancada os mais de 90 dias desta estação gelada, com baixa umidade do ar, ventos fortes, dias mais curtos e noites mais longas.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve agens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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