Polices e letras
Fu Lana esteve a turismo em um lugar onde ninguém entendia quando ela dizia: quero comprar fontes. Letras, famílias de letras, desenhos de letras. …
Fu Lana esteve a turismo em um lugar onde ninguém entendia quando ela dizia: quero comprar fontes. Letras, famílias de letras, desenhos de letras. Ali eram "polices". Ficou difícil a comunicação. Foi encontrá-las em uma feira de informática, depois de ar por algumas livrarias. Pela lógica, deveria ter procurado por editoras. Lembrando tal história entrou em uma palestra sobre tipografia*.
A gente nunca sabe o quanto se pode tirar de uma fonte. E de um assunto desses. A palestra iniciou com um professor do tipo veteranos-superjovens. Não envelhecem, têm senso de humor e conhecimento.
Na palestra, ouviu sobre os tipos criados no ado, os clássicos Garamond e Griffo. Sobre serifas quadradas e tipos de madeira. Até o surgimento do grotesco. O professor dizia sorrindo: a modernidade é grotesca. Referia-se à mecanização, à Revolução Industrial. Até citar a Bauhaus. Fu Lana já escutara sobre bauhaus (em caixa-baixa) desde há muito. Afinal, já tinha aquela incerta idade.
O convívio que se tem hoje com o ado, através da liberdade de informação e da facilidade em encontrar conteúdos, certamente definiu que aquela seria uma palestra definitivamente pós-moderna.
Fu Lana lera sobre pós-moderno, também, há muito tempo. No entanto, quando recebia a bibliografia no Instituto de Artes (porque não havia internet), ela saía logo atrás das publicações. Porém, não bastava esse esforço. Tinha dificuldade de entender de fato o que era pós-moderno.
Vinte anos depois, em uma palestra pós-moderna por excelência, ela ouvia algo novo sobre fontes. Precisava definitivamente circular mais. A professora Ana Cláudia tomava a palavra para falar em moderno, ou seja, em diagramas rígidos, em grades, em uma base. Por sua vez, o professor Joaquim encerrara sua palestra dizendo que o gótico era um tipo rebuscado de letras e que 80% das publicações alemãs eram escritas dessa forma. Por isso a modernidade era grotesca. E o rompimento com essa grade chamava-se também David Carson.
Ana Cláudia apresentava o barulho de uma publicação desconstruída e remontada, a exemplo de outras, em outras épocas. Comparava 1912 com 1987, entre outras situações muito semelhantes. Esse paralelismo conduz Fu Lana ao entendimento de que não há grade e sim a idéia de que as mensagens escritas nunca mais serão apenas lidas. Lembrava da menção anterior do professor Joaquim de que os grandes tamanhos de pôsteres fizeram com que fossem criados os tipos de madeira e, com isso, as letras aproximavam-se de se transformar em objetos e em imagens. As idéias visuais se sobrepõem ao sentido literal.
O que fizeram artistas como Carson foi itir que letras são símbolos, formas e que podemos brincar com elas, mesmo que isso acabe com a legibilidade. Acontece com qualquer um, por algum tempo. Por outro lado, quem estuda, dizia a professora, sabe que os es são diversos em um ambiente urbano, e não são monovalentes. Fu Lana ouviu bem: não seguimos regras porque os que vieram antes de nós se encarregaram de destruí-las. Não há regras e o nosso trabalho depende de um objetivo específico. Cada um tem uma função diferente. Existem polivalentes tipos de propostas, várias situações de leitura. Vale o traço e o pingo à mão, assim como o rígido e o construído. Estamos em busca de critérios.
Adorou perceber a juventude de Ana Cláudia, com um pensamento tão conclusivo, tão diferente do seu, instintivo e inconstante.
No auditório, inquietos jovens designers escutavam, curiosíssimos. O que Ana Cláudia obteve foi visual e verbal. Deixou a letra na memória: hoje, é pensar na comunicação e na agem da mensagem.
O professor retoma a palavra e encerra a palestra afirmando: Somos vítimas da comunicação na rua. Hoje, se produz muito mais informação do que somos capazes de assimilar. Se sou saudosista? São, afinal, estes os diversos tipos.