Percepção do gaúcho sobre o atual estágio da pandemia

Por Elis Rann

A sensação de que a pandemia está sob controle aumentou diante da diminuição dos indicadores (número de contaminados, de internações hospitalares e de mortes). Há a leitura de que a vacina segurou a letalidade do vírus e o transformou em uma gripe de respeito e, por isso, precisa-se manter os cuidados.

A flexibilização das medidas restritivas, com a liberação do uso de máscaras em ambientes fechados, trouxe um simbolismo fantástico, levando a um gostinho de vitória, de fim de campeonato, para a maioria dos gaúchos.

Mesmo assim, as opiniões sobre o atual momento em que vivemos são variadas. Para 15% do Estado, mais otimista, A PANDEMIA ESTÁ TOTALMENTE CONTROLADA. Nesse grupo há os que se sentem seguros com a vacina e os que nunca tiveram muito receio da Covid-19, especialmente a gurizada.

A grande parcela da população, quase 70%, são mais comedidos no otimismo e consideram que A PANDEMIA ESTÁ EM PARTE CONTROLADA. Esse público se preocupa com a possibilidade de novas variantes e traz em sua narrativa todos os "estados de alerta" que foram ativados durante os quase dois anos de imposição do isolamento e distanciamento social. 

Sete de cada dez gaúchos aprenderam a seguir e a conviver com as regras que eram condicionadas pelas medidas restritivas dos governantes. Nesse atual estágio, estão reaprendendo a viver em sociedade, voltando ao convívio social, liberando as crianças, voltando a fazer aglomerações pontuais e tendo momentos de lazer. Muitos confessam que ainda se sentem inseguros e ficam com a sensação de que estão fazendo algo errado quando saem de casa para ear. 

Temos que ter em mente que a pandemia continua a assustar e a manter gente defendendo a ideia de que A SITUAÇÃO AINDA ESTÁ FORA DE CONTROLE. De cada dez pessoas, você vai encontrar uma que mantém o modelo mental de crise pandêmica, com muito medo da aproximação social. 

As marcas emocionais criadas pelos controles da pandemia, pelo noticiário e pelo medo do vírus são tão intrínsecas que fazem com que algumas pessoas continuem a usar máscaras dentro do seu próprio veículo, mesmo quando estão sozinhas. O estado de vigilância para o uso de máscara e álcool gel para higienização de tudo se tornou uma rotina intensa. São essas pessoas que mostram dificuldade de retomar a socialização, as atividades coletivas ou deixar de ar o álcool gel em todas as compras do supermercado. 

Como tem todo o tipo de opinião, uns 5% da população do RS não acredita que houve pandemia. Esse grupo também é heterogêneo, uns afirmam que transformaram uma gripezinha em uma pauta política e aproveitaram para privar as pessoas de seus direitos individuais e outros simplesmente vivem naturalmente em isolamento social, não se abalaram com essa história de medidas restritivas e ignoram a pandemia. 

Nesse momento de transição, cada um está tentando curar as dores ou marcas deixadas pela pandemia, reaprendendo a conviver socialmente, a planejar aglomerações ou até a sonhar com a roda de chimarrão.

Autor
Elis Rann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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