Patrões gostam de levar vantagem em tudo, cerrrto?

      Patrões tendem a exibir uma lógica particular, ocasionalmente perversa, como ao determinar que erros de ortografia implicam perda de pontos, advertência, redução de salário …

      Patrões tendem a exibir uma lógica particular, ocasionalmente perversa, como ao determinar que erros de ortografia implicam perda de pontos, advertência, redução de salário e, é óbvio, demissão. Não importa em que redação tal medida seja implantada, ou qual a qualidade de seus jornalistas, mas sim o conceito. Bons jornais são escritos por bons profissionais, e bons profissionais recebem bons salários em qualquer ramo de atividade. É disso que se trata. Remuneração capaz de proporcionar ao jornalista a necessária tranqüilidade para exercer o ofício seria pedir demais. Falemos então de salários decentes.
      Não se vê a aplicação de uma economia de guerra na hora de investir em prédios, equipamentos, campanhas promocionais, eventos para anunciantes e etc., mas, no momento de remunerar os integrantes da redação, a turma da chamada "atividade fim", aí cada centavo a mais exige exaustivas discussões. Cortar salários por causa de erros é uma tática bastante esperrrta. Poderia ser utilizada também em relação a diretores cujos erros "estratégicos" quebram empresas ou as obrigam a demitir em massa para sobreviver.
      É claro que jornalistas têm de dominar o idioma, no mínimo, mas não conheço nenhum caso de alguém que aprendeu a escrever porque teve o salário reduzido. Tampouco de quem tenha dominado a arte do texto imediatamente após receber aumento. Alguns são mesmo irrecuperáveis, mas aí é aconselhável trocá-los, e não submeter toda a redação a rotinas de colégio interno. Campanhas de "erro zero" podem ser bem sucedidas desde que se conte com material humano qualificado, cujos deslizes são ocasionais e frutos da desatenção, e não da ignorância. Se a diretoria de um clube de futebol acha que o time não funciona porque o elenco é fraco, não adianta reduzir os salários sempre que alguém errar um e ou chutar um pênalti por cima do travessão. A adoção dessa tática diminuiria consideravelmente os custos, mas acabaria levando a equipe à segunda divisão. Competência não vem por decreto. E essa não deveria ser uma atribuição da diretoria, por várias razões, entre as quais a de desautorizar o técnico, ou, no caso, a chefia da redação. Além do mais, se o comandante está servindo os drinques, quem está pilotando o avião?
Dedicado a Nélson Mola Ferrão
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Autor
 Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha, Dona Deusa e seus Arredores Escandalosos e da ficção juvenil Eliakan e a Desordem dos Sete Mundos.

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