Para uma avenca

Anjos bons, anjos maus, anjos existem e são meus inimigos e são amigos meus. As fadas também existem. E me beijam pela manhã. Após …

Anjos bons, anjos maus, anjos existem e são meus inimigos e são amigos meus. As fadas também existem. E me beijam pela manhã. Após mais um pit stop forçado no hospital, retornei. Mas, conduzida pelas mãos de um desses anjos e fadas,  é que voltei para o convívio de vocês. E se tiver o o.k. do editor do site mais lido entre os profissionais dos meios de comunicação do Brasil, vou voltar a deixar que as teclas dominem meus dedos humanos e escrevam minha contribuição semanal, um dos meus maiores prazeres. Nas entrelinhas, leia-se: vocês terão que me agüentar.


No hospital, entre aventais brancos que circulavam pela UTI, me lembrei do livro do Caio Fernando Abreu, intitulado "O ovo apunhalado" (edição original), no conto "Para uma avenca partindo", em que ele descreve a dificuldade de dizer uma série de coisas a uma pessoa naquele pequeno intervalo em que o ônibus está para deixar a rodoviária. Claro, em se tratando de Caio, não é uma simples conversinha na janela do coletivo. Ele quer dizer coisas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe como serão ouvidas e nem ditas, compreendem ? Existem momentos em que a nossa voz fica embargada e não coordenamos muito os pensamentos. É mais ou menos isso.


Na carona do Caio, quero dizer que vocês cresceram em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se vocês fossem apenas uma semente e eu plantasse vocês esperando ver nascer uma coisa qualquer, pequena, rala, uma avenca. Calma, explico melhor. Desenvolvi um grande amor fraterno por todos que me ajudaram a plantar novas avencas no meu jardim que em breve irão desabrochar, como os dias de 2007, que será um ano de sorte  (ouvi que a soma é nove, ímpar e que isso já é um sinal?.ah?.bom). Por todos que me ajudaram nessa fase ruim de saúde e pelos leitores (que sentiram a minha falta, por favor!!!.).


Como sei que as avencas irão ficar lindas, já vou me adiantando e pedindo menos violência no ano novo (será que a gente vai conseguir ?); mais vergonha na cara dos deputados que ganham muito pouco e precisam engordar seus bolsos (mais um desejo impossível?posso estar enganada); que os políticos cumpram as suas promessas e, principalmente, quando anunciam que não vão aumentar impostos, por favor, não aumentem  (a equação é simples). Se fosse possível, as mães que carregam a vida futura nos seus ventres, não tenham tantos gestos desvairados, como esquecer os filhos nos shoppings ou nos rios.


Talvez esteja um pouco "fora da casinha" (pelo tempo ado no hospital, o tico e o teco não se encontraram), mas imaginei que seria muito conveniente que mais pessoas tivessem o à habitação, saúde, saneamento e educação. Carrego uma esperança boba, que, às vezes, teima em me desafiar, de que um dia a gente vai mudar esse país com educação para todos. Educar é crescer, aprender, estar aberto, não ser enganado. É ser cidadão. Daí, pode ser que ninguém venda seu voto por comida, dignidade por um pedaço de pão e que o menino da mesma idade da minha filha não necessite assaltar para levar comida para casa.


Com a certeza de que em 2007 eu verei as avencas se multiplicarem, pensei que seria muito legal se todos tivessem calma para aceitar o que lhes é imposto; coragem para tentar mudar o que não lhes agrada; sempre um projeto de vida, um sonho, algo no que acreditar, para que o amanhecer seja sempre um ato de amor e recomeço com a vida. Eu já decretei. Neste ano, além de paz no meu coração (ah, não iria perder esse bordão), quero escrever um livro (patrocinadores???), continuar empregada e escrevendo aqui, com a saúde recuperada e com a minha continuação de vida e suas aventuras que se chama Gabriela Martins Trezzi.   

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve agens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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