Para não esquecer

Por José Antonio Vieira da Cunha

  1. O Canto Livre de Nara Leão. 

Mais até do que pela personagem que retrata e exalta, o documentário vale, e muito, pela amostra daquele Brasil dos anos 60 e 70. Apesar da censura e da repressão impostas pela ditadura, vivia-se um ambiente criativo e revolucionário. Era o tempo da Bossa Nova e do Iê iê iê, o rock à brasileira que levou seus 'adversários' a promover uma bizarra eata contra a influência (considerada nociva...) da guitarra elétrica na música brasileira. No cenário em que um rivalizava com o outro em busca de sucesso e reconhecimento, Nara Leão, doce e espontânea, flutuava muito bem entre os dois gêneros, para desencanto de alguns, surpresa de outros e alegria de muitos. Usos e costumes do século 20 circulam de forma realista pelo documentário, graças a imagens da época e a depoimentos reveladores de contemporâneos de Nara, como Chico, Marieta Severo (para quem Nara foi uma mulher revolucionária exatamente por influenciar novos comportamentos e ideias), Roberto Menescal, Bethânia, Edu Lobo e Dori Caymmi, mais seu ex-marido Cacá Diegues. A série é da Globoplay e tem cinco episódios que encerram deixando o espectador com aquele bom desejo de quero mais.

  1. Borgen.

Ótimo exemplo de que tem muita vida inteligente fora de Hollywood, a série dinamarquesa vale por apresentar uma cultura e comportamento completamente diferentes dos que conhecemos por estas bandas. A Dinamarca é um país líder naqueles quesitos que tocam as pessoas - qualidade de vida máxima, mínimo nível de corrupção - e ver seu cotidiano desfilar pela telinha de forma atraente e competente é prazeroso e educativo. A mulher que assume de forma inédita o poder no país exala exatamente estas virtudes dinamarquesas, lutando contra extremismos e assegurando os direitos elementares da cidadania. Não sem ser às custas de incompreensões e traições, que garantem à série momentos prazerosos. Veja na Netflix.

  1. Ataque dos Cães.

O Piano foi um filme vencedor que atraiu os holofotes para sua diretora, Jane Campion. Primeira mulher a ganhar a Palma de Ouro, já no final do século ado, a carreira da neozelandesa foi sempre ascendente. E agora está aí seu mais novo rebento, o filme que consegue explorar, em um Estados Unidos recém-saído de sua era selvagem, a luta pelo poder, com desejos reprimidos e relações homoeróticas aflorando a todo momento. Esta direção segura, aliada a interpretações marcantes, como a do anti-herói Benedict Cumberbatch, torna Ataque dos Cães um daqueles filmes imperdíveis. Tá na Netflix.

Nara: não tem como não se apaixonar

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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