Pai, eu te amo
Um receio prematuro de que era necessário acertar as minhas dívidas emocionais aqui neste plano para não chegar ao final da vida, onde a …
Um receio prematuro de que era necessário acertar as minhas dívidas emocionais aqui neste plano para não chegar ao final da vida, onde a religião de cada um determina (céu, inferno, encarnação, terra dos duendes, sei lá), com saldo devedor, levou-me de volta ao abraço fraterno e aconchegante do meu pai, em outubro do ano ado. Depois de um tempo negando, com uma veemência absurda, a sua existência física (como sou malévola, vou para o inferno), apesar de insistentes tentativas dele para a reaproximação, cedi à emoção. E, num encontro regado a saudade, nos emocionamos com o afeto contido.
Como pude ficar tanto tempo ignorando a importância da figura paterna em minha formação adulta? Como pude ser ingênua a ponto de imaginar que esqueceria o calor dos seus braços quando eu precisava de proteção? Como pude ser tão criança e pensar que apagaria com uma borracha mágica todos os momentos felizes que amos juntos? Como pude ser tão maldosa e negar-lhe que acompanhasse de perto o meu desenvolvimento profissional? Como fui tão egoísta ao dificultar que a minha Gabriela Martins Trezzi conhecesse o seu avô e desfrutasse das qualidades e defeitos que ele tem, como todos nós?
Nada pode substituir o amor paterno quando ele é verdadeiro, abnegado e intenso. Nada consola mais um filho (a) do que ouvir as orientações sábias de um pai quando ele já ostenta cabelos brancos e apresenta até lapsos de memória pela idade. Nada é comparável ao porto seguro que representa um pai. Nada é tão incentivador quando pai e filho desfrutam da mesma profissão e podem trocar experiências e percepções. Nada é tão sublime, pueril e indescritível quando os filhos já adultos am a exercer o papel de mãe ou pai, sempre com o amparo e o aval das lições aprendidas na infância por aqueles que hoje são avôs e avós.
Toda esta falta de vivência com meu pai tornou, nos últimos anos, minha rotina mais amarga e um pouco incompleta. Foi um tempo em que vivi exilada do amor paterno e impedi que minha filha conhecesse um avô diferente. Que enfrenta a velhice com a superioridade de quem vai vencer; que vive planejando o amanhã, mesmo que ele possa não ocorrer; que me deu uma irmã mais moça que a Gabriela, que, com humildade, nos acolheu, sem perguntar absolutamente nada do ado pretérito imperfeito. E vive conosco pequenos momentos familiares de um presente com caráter de urgência, para recuperar o que eu neguei.
Claro que como mãe devotada (pelo menos eu espero!!!), esforçada, dedicada e sabedora da fundamental importância da companhia materna em todos os momentos da vida de um filho (a), jamais colocarei na balança amor de mãe e pai. Porque é covardia! Ah, fala sério! Todos sabem que ser mãe é desdobrar fibra por fibra (ops, isso é plágio de Coelho Neto). E que as mães são categorias de anjos que Deus criou para ajudá-lo na istração do mundo porque a tarefa de ser bondoso, caridoso, e altruísta estava lhe cansando demais. Era preciso delegar poderes.
Mas nesta semana em que se comemora no domingo o "Dia dos Pais", utilizei a coluna para fins próprios (aimopai, tomara que o editor não me demita, brincadeirinha Vieira!). Em linguagem de jornalista, diria que cumpri uma "Pauta