Nós, os palindromistas, somos ínfimos. Quer dizer, num planeta com 7 bilhões de não-palindromistas,reles eraros. Até entre os 211 milhões no paíssomos gatos pingados: não ultraamos os 0,00003%(acredite no percentual, fiz o cálculo). Nessa densidade rarefeita de palindromistas, tudo sempre foi esparso e escasso: interlocutores, encontros, matérias na mídia, publicações. Isso ao longo de décadas que parecem séculos. Aí, em 35 anos, três eclosões palindrômicas: uma ao redor do Pasquim em julho/1986;outra no Twitter emplena pandemia; e agora, junho/2021, um inesperado boom editorial. 4a2k4t
Três livros sobre palíndromos lançados quase ao mesmo tempodá o que pensar. Algo na água? Desarranjo genético? Conjunção planetária? Sabe-se lá. Um fenômeno que só não é notável porque quase ninguém nota o feito extraordinário. Com exceção da rala comunidade palindromista, os livros não são vistos nem lidos. Daí essa coluna pela causa da palindromia.
Como antesabordei a nossa antologia
Arara Rara(
ler aqui) e sobre os
#desafiospalíndromos no Twitter (
ler aqui)
, quero agora badalar duas primorosas e imperdíveis edições:
O Palindromistae
A Dual Lauda.
São obras palindromáticas singulares, de imenso fôlego criador, de estupendos malabaristas do vaivém vocabular: o ex-servidor público
Ricardo Cambraia e o poeta
Paulo Brombal. Cada um à sua maneira, autores respeitáveis. E mesmo incomparáveis, me atrevoa compará-los: só assim para valorizar o empenho e o estilo dum e doutro, e os méritos criativos de ambos.
Cambraia se dedica ao imediato: cria e publica palíndromos inspirados pela vibração do noticiário do dia a dia. Brombal vai muito além do momento: é motivado pelo que transcende, pelo imaginário, pelo que não evanesce nunca.
É SENADO DO MEDO, DA DÍVIDA, DO DEMO, DO DANE-SE!
Cambraia domina a carpintaria palindrômica: aplaina e apara o vocabulário a seu bel-prazer, com a agilidade de um formão instantâneo. Já Brombal, é um artífice, dono de um sensível buril,a esculpir lentamente versos magistrais, e que nem parecem palíndromos. Cambraia usa um potente e amplo radar, a rastrear manchetes do cotidiano, quase sem perder nenhuma. Seus palíndromos formam uma compilação documental relevante, com ressonância histórica. Brombal possui uma lupa graduada para a minúcia, o detalhe acurado, focada na delicadeza e no inefável, manipulada em direção à surpresa e o encantamento.
O CIRO TE RETOCA PACOTE RETÓRICO.
Cambraia, permanentemente atento e alerta, se fixa no visível, no aparente, no apelativo. E disso tudo extrai palíndromos que interpretam o ruidoso cenário social, político e econômico. Brombal, por sua vez, é atraído por vislumbres vitais, pela contemplação dos meandros humanos, um enamorado das sutilezas. Imagine palindromar e rimar. Enfim, enquanto Cambraia relêcom frenesi a histeria da realidade nacional e mundial minuto a minuto, Brombal prefere o remanso poético, a artesania linguística, a paixão semântica, o gozo semiótico.
Os dois, cada qual com seu irável volume de palíndromos, enfeixam um evento literário significativo. Significa que abriu-se a porteira livreira: depois da
Arara Rara, de
O Palindromista e de
A Dual Lauda, com certeza virão novos livros de palíndromos. Prepare sua estante lá e cá!
(
Atenção: você não vai encontrar esses livros pelaí, têm distribuição exclusiva. Para adquirir o livro
O Palindromista, e o site da editora
Avá. Para adquirir o livro
A Dual Lauda,e o site da editora
Patuá.)
(Para acompanhar cada um dos palindromistas no
Twitter, e
https://twitter.com/OPalindromista e
https://twitter.com/PauloBrombal).