Oxímoros & paradoxos
Por José Antônio Moraes de Oliveira

"Um cão não mente. Quando ladra é porque tem alguém lá fora".
Umberto Eco.
***
O dicionário nos diz que paradoxos são figuras de linguagem que colocam lado a lado palavras com significados opostos, para criar um conflito de idéias ou de comunicação. Já existia na Grécia antiga como um exercício de imaginação e era chamado de oxímoro. Paradoxos foram usados por grandes escritores e poetas para expressar crítica, ironia ou sarcasmo. Como William Shakespeare em Romeu e Julieta ou Luis de Camões em um de seus sonetos:
"O amor é ferida que dói e não se sente".
Nos tempos modernos, o italiano Umberto Eco transformou o paradoxo em um protagonista da linguagem literária. Em seu clássico O Nome da Rosa ingressamos em um intrincado labirinto, onde somos conduzidos de um paradoxo para outro. Como anuncia o protagonista-detetive:
"Um crime que parece suicídio mas também pode não ser".
***
Para Umberto Eco um livro pode ter um significado aparente mas pode esconder outros significados que não são tão aparentes. Diz que uma religião segue certos princípios, mas, ao mesmo tempo, pode usar outros completamente opostos. Como vemos em "O Nome da Rosa", onde o franciscano Guilherme de Baskerville procura resolver crimes misteriosos, enquanto decifra paradoxos humanos. O desafio está no alto de uma torre, onde uma misteriosa é dominada por um monge cego e dogmático.
Na busca de respostas, Guilherme vasculha o labirinto de livros e manuscritos, onde se depara com o guardião da biblioteca, frei Jorge de Burgos, que apresenta um paradoxo teológico:
"O riso deve ser evitado por licencioso
ou é próprio do ser humano?".
O livro nos sugere que a resposta pode estar no segundo livro de Aristóteles, ocultado pelo zelo místico do bibliotecário. Está criado o conflito entre duas teses teológicas antagônicas, mas completares - a Igreja ortodoxa medieval, defendida por Jorge de Burgos e a outra, representada pelo questionador Guilherme de Baskerville; ele se fundamenta em Aristóteles e seguidores, que consideravam o riso como um claro sinal da racionalidade humana.
Ao sediar na biblioteca de um mosteiro medieval o cenário de seus paradoxos e oxímoros, Umberto Eco replica referências pessoais - sua própria biblioteca em Milão, onde milhares de livros e textos estão empilhados em estantes e escaninhos. Em um canto, guarda intocada a herança do avô tipógrafo - um baú abarrotado de papéis e manuscritos.
A outra referência: um de seus contos prediletos, A Biblioteca de Babel, de Jorge Luis Borges que descreve um labirinto, com milhares de livros que contém soluções para as necessidades humanas e respostas para todas as perguntas.
***