Ovo não nasce na geladeira…

Sete edifícios com 20 andares e 200 lotes do condomínio onde moro foram colocados à venda no final de 1978, restando um terreno para …

Sete edifícios com 20 andares e 200 lotes do condomínio onde moro foram colocados à venda no final de 1978, restando um terreno para a construção do oitavo e último edifício, no mesmo padrão do projeto original. Poucos anos depois, a incorporadora resolveu lançar esse edifício com 280 apartamentos, em vez dos 160 originais. O hoje prefeito César Maia, mais outro condômino já falecido e eu entramos na Justiça. Quando vencemos em primeira instância, fui procurado para um eventual acordo e os dois amigos deram-me carta branca para as negociações.


Resumo da ópera: além do ressarcimento de todas as despesas efetuadas, o Condomínio faturou 1,5% da venda de todo o edifício. Parte dessa verba eliminou a única carência comunitária, com a construção de um ginásio coberto. Mas a verba era generosa e com ela realizou-se um projeto meu.


Quando subsíndico, criei uma horta comunitária em área municipal contígua ao condomínio, protegido por lei, também municipal. A adesão da criançada ao plantio, crescimento e colheita foi enorme. Como eu já havia autorizado verba para a compra de mudas de árvores frutíferas, um imenso pomar dava seus primeiros frutos. Hoje, além dos festivais de coco em muitos domingos, quando a água de coco é grátis, colhem-se, das 600 árvores, manga, caju, sapoti, acerola, pitanga, graviola e jabuticaba.


Agora o a escrita à jornalista Carla Almeida, minha filha, cujo texto foi publicado na revista de luxo "Novo Leblon Ano 25" (editei, também, as de 10 e 20 anos).


"Entre tantas coisas boas que atraem e envolvem a gente neste imenso quintal, a Fazendinha, uma grata inspiração de Mario de Almeida, é o que há de mais singular na comunidade do Novo Leblon. Em que condomínio é possível encontrar, ao lado dos mais modernos e diversos serviços, um espaço com horta, vacas, cabras, cavalos, patos, galinhas, marrecos, perus, pavão e outros bichos?


Na inauguração da Fazendinha, indagado pela TV Globo sobre o seu objetivo, Mario respondeu: É para a criançada da cidade saber que o ovo não nasce na geladeira.


Quando subsíndico, Mario criou uma horta-teste, para avaliar a resposta da garotada, que foi positiva, muito além do esperado. Zilka Salaberry, na época a Dona Benta do "Sítio do Pica-pau Amarelo", nomeada madrinha da horta, chegou de charrete para a primeira colheita e acabou colhendo muitas flores das mãos da criançada.


João Augusto Fortes, da João Fortes Engenharia, trouxe para o Mario, da França, alguns livros sobre fazendas com finalidades educativas. O mandato do Mario estava no final e não haveria tempo para a implantação do seu projeto. O empresário Sylvio Queiroz Correa, eleito Síndico Geral, tratou-o como prioritário e usou parte da verba conseguida pelo acordo judicial para realizá-lo."


Em outubro de 2004, a coordenadora da Fazendinha pediu-me sugestão para montar um auto de Natal na Fazendinha. Expliquei-lhe que não haveria tempo para ensaiar e produzir um espetáculo digno, mas a idéia fez-me cócegas na cuca.


Como a cuca não sossegava, sentei-me ao computador e, em algumas horas, estava escrito o "Auto do Improviso", no qual um casal de palhaços cria o tradicional presépio, com Jesus (um boneco) deitado num carrinho de obra com capim, mais o cavalo (no lugar do burro), o boi, a atriz como Nossa Senhora, e o ator,  como São José. Lá estava eu, autor e diretor, de volta à cena depois de décadas de silêncio, com um público mirim, com pais e avós, em vibrantes aplausos.


O meu declarado desejo de ser útil inventou algumas oportunidades, mas nenhuma tão colossal como me foram dadas na Fundação Roberto Marinho. Lá, pertenci à equipe que implantou em todo o Brasil os telecursos de primeiro e segundo graus, divulguei-os nacionalmente, fiz diversas campanhas sobre patrimônio cultural e preservação da memória e dirigi mais de 100 programas sobre os cursos técnicos: "Globo Profissões".


Pessoalmente, consegui, algumas vezes, ser útil no varejo. Em equipe, no atacado.


Inté.

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Autor
Mario de Almeida é jornalista, publicitário e escritor.

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