Outone-se
Por Márcia Martins

Depois de dois anos de quase total recolhimento em função da Covid, em 2020 e 2021 - pelo menos para os responsáveis que entenderam não se tratar de uma simples gripezinha - e um 2022 com cuidadosas retomadas de saídas a partir da vacinação em dia, finalmente poderemos usufruir, neste ano, de todas as possibilidades de encontros, aconchegos e paisagens das folhas caindo em os de dança que o outono oferece. Portanto, aproveite ao máximo a nova estação, que chegou, pelo calendário, no dia 20, às 18h24min. Outone-se com todas as promessas que os dias menores e as noites mais longas propiciam.
Para alguns, o outono representa um período de emoções mais trancadas, uns sentimentos em repouso, como a sossegar do agito do verão, de reduzir o volume de compromissos, de priorizar o descanso, o relaxamento e até tirar umas férias das ruas, abusando das pantufas, cobertores e mantas. Apesar de, em alguns momentos, o outono tentar me induzir a uma certa melancolia, sou uma fã declarada da estação.
No outono, não é só o convite para eios em cinemas, as caminhadas em parques ao entardecer, os cafés com as amigas pelo bairro ou mesmo em shoppings depois de ver um bom filme, ou até mesmo uma tarde inteira em casa vendo séries na televisão, que me emocionam e me envolvem. No outono, fico apaixonada pela autoridade das árvores expulsando as folhas, que ao cair, quase que indefesas, transformam as ruas em arelas douradas e castanhas, formando tapetes da natureza.
Não tem aquele frio de renguear cusco do inverno. Não tem aquele suor pingando pelo calor excessivo do verão nas pessoas que transitam pelas ruas. E nem mesmo aquele vento instável da primavera, que além de levantar saias e estragar qualquer tentativa de cabelos alinhados, é um poderoso estimulador das rinites alérgicas. O outono traz promessa de vida, de encontros, de acasos, de imprevistos, de romances, de amanhecer com o nevoeiro se desenhando, de acompanhar a natureza mudando de cenário.
Na estação que antecede o temível inverno, o clima apetece, de vez em quando, também o enclausuramento. Desde que ele seja feito com cálices de vinho, goles de licor, sopas fumegantes, barulho de pipoca estourando na a para ver bons filmes ou uma manta agasalhando os pés para colocar em dia as leituras atrasadas.
Outone-se. Dentro de sua casa ou apartamento, explorando as possibilidades da estação, ou na rua, em qualquer momento, em qualquer lugar, com seus amigos e amigas ou usufruindo da sua companhia (mas mantendo os cuidados essenciais porque a Covid-19 ainda ronda nossas vidas).