Os deveres que precisamos cumprir antes que 2022 se encerre

Por Márcia Martins

Na literatura nacional e na Música Popular Brasileira, encontramos várias obras de qualidade indiscutível que abordam a efemeridade do tempo e de como, em função do seu caráter transitório, deixamos de realizar tarefas, terminar atividades e aproveitar cada minuto da nossa vida. Mas, o que mais impressiona pela sua perfeita visão madura, é o poema do Mario Quintana (1906/1994), cujo título original é "Seiscentos e Sessenta e Seis", publicado em 1980, e que ficou também conhecido como "O Tempo".

Nele, escrito pelo poeta aos 74 anos, Quintana afirma que "a vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa, quando se vê, já são 6 horas, há tempo, quando se vê, já é sexta-feira, quando se vê, se aram 60 anos, agora é tarde demais para ser reprovado".

Pois, quando fui escrever na agenda (sim, eu mantenho esse hábito) os compromissos do próximo mês, que se inicia na segunda-feira, 1º de agosto, me senti a personagem inspiradora do Quintana. Do nada, percebi que o sétimo mês de 2022 está findando e pouco tempo me resta para fazer muitas coisas ainda este ano. Em apenas cinco meses, preciso istrar a agem do tempo, otimizar os horários, programar melhor minha rotina e, mais que tudo, aceitar que já convivo com limitações dos mais de 60 anos e a vida começa a adquirir um significado de celeridade.

Tudo muito rápido para não ser reprovada, porque na velocidade da vida não há possibilidade de exame de recuperação. Assim como fica evidente nas palavras de Quintana, é necessário, definitivamente, enquanto ainda nos é permitido, completar nossa missão, mudar a atitude irresponsável de adiar o inadiável.  Mais do que nunca, o tempo assume caráter de urgência.

Não que eu vá sair atropelando as pessoas e suas idiossincrasias, a fim de poder imprimir a minha emergência. Necessito sim cumprir meus deveres respeitando o espaço de cada um. Preciso, nestes cinco meses que 2022 me oferece, ser mais ativa na militância feminista e na política, investir mais na qualidade de vida, seguir firme no acompanhamento da saúde, aprimorar as posições na ioga, ler os livros que se acumulam, caminhar com maior assiduidade e conviver mais com os(as) amigos(as). Sempre me resguardando e mantendo os cuidados porque a Covid-19 segue à espreita.

Na impermanência da minha vida, entendi que também é fundamental aceitar as limitações de cada pessoa e, dentro da minha capacidade, doar-me ao máximo aos que me rodeiam e tornam a minha rotina enriquecedora. Amar mais. Perdoar mais. Compreender as emoções individuais e inserir-me nas coletivas. E jamais esquecer de agradecer.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve agens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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